Monday, December 23, 2002

Homenagem natalina.

"Papai Noel Velho Batuta!

Papai Noel filho da puta
Rejeita os miseráveis
Eu quero matá-lo
Aquele porco capitalista
Presenteia os ricos
Cospe nos pobres

Nós vamos seqüestrá-lo
E vamos matá-lo
Por quê?!
Aqui não existe natal
Aqui não existe natal
Aqui não existe natal
Aqui não existe natal
Por quê?!"

- Garotos Podres

Saturday, December 14, 2002

"I looked above on pure and sparkling stars. How lonely this, these guardian glassy spires with all their fast and golden squares of light cut in ranks run straight across and sharply down to score the airy blackness of the winter night, and here now comes the tyrant wind, whistling through crystalline canyons down across this small neglected bed where one forgotten demon lies, gazing with larcenous visions of a great soul at the city's emboldened lights on clouds above. Oh, little stars, how much I've hated you, and envied you that in the ghastly void you can with such determination plot your dogged course."

Trecho de "The Vampire Armand", da Anne Rice. Depois de alguns anos sem ler, estou "tirando o atraso" com as crônicas vampirescas. Faltam Merrick, Blood and Gold e Blackwood Farm. O Armand não é um personagem tão ruim quanto parecia ser, particularmente por causa da fé mutante mas inabalável que ele sustém. Bom livro (mas não leia sem ler antes os outros cinco da série).

Wednesday, December 11, 2002

Digam o que disserem contra os modernistas, mantenho minha opinião. Quem precisa de forma com um conteúdo destes?

"ELEGIA 1938

Trabalhas sem alegria para um mundo caduco,
onde as formas e as ações não encerram nenhum exemplo.
Praticas laboriosamente os gestos universais,
sentes calor e frio, falta de dinheiro, fome e desejo sexual.

Heróis enchem os parques da cidade em que te arrastas,
e preconizam a virtude, a renúncia, o sangue-frio, a concepção.
À noite, se neblina, abrem guarda-chuvas de bronze
ou se recolhem aos volumes de sinistras bibliotecas.

Amas a noite pelo poder de aniquilamento que encerra
e sabes que, dormindo, os problemas te dispensam de morrer.
Mas o terrível despertar prova a existência da Grande Máquina
e te repõe, pequenino, em face de indecifráveis palmeiras.

Caminhas entre mortos e com eles conversas
sobre coisas do tempo futuro e negócios do espírito.
A literatura estragou tuas melhores horas de amor.
Ao telefone perdeste muito, muitíssimo tempo de semear.

Coração orgulhoso, tens pressa de confessar tua derrota
e adiar para outro século a felicidade coletiva.
Aceitas a chuva, a guerra, o desemprego e a injusta distribuição
porque não podes, sozinho, dinamitar a ilha de Manhattan."

- Carlos Drummond de Andrade, (1902-1987)

Saturday, December 07, 2002

"In Motion #1

kill me with your thoughts
use your mind
hand me over to this world
into death...

make me cry in vain
leave one tear
touch my face with your sigh
leave me against the stream
one hundred worlds will see me
passing by..."

- The Gathering

Friday, December 06, 2002

"Os tucanos também consideram o Fome Zero um projeto centralizador do Estado, que retira das famílias carentes a autonomia para utilizar da forma que lhe convier os recursos distribuídos."

O texto acima é parte da reportagem do Terra sobre a primeira manifestação da futura oposição tucana. Este discurso vazio dos políticos é deprimente. O termo "centralizador" é utilizado como se fosse pejorativo; e a autonomia: de que autonomia as famílias precisam para utilizar estes recursos (leia-se comer)?
O jogo do poder já começou. Esta "oposição" claramente tem o intuito de tirar a credibilidade do governo Lula e fortalecer a candidatura Aécio Neves 2006 (ele mesmo declarou algo que indica isto na reportagem).

Sunday, December 01, 2002

Saiu na Folha:

"Deputada do PT entrega charutos e confirma Fidel na posse de Lula"

É, Bush... O candidato "comunista" está começando a mostrar seus contatos com os "terroristas". Cuidado, hein?

Thursday, November 28, 2002

Saiu no Slashdot: Uma física na Universidade de Waterloo está bem perto de unificar a Teoria Quântica com a Teoria da Relatividade. A Scientific American tem um artigo sobre isso. Questão interessante levantada : Na teoria quântica, todas as variáveis são um "limbo" de probabilidades, que só se tornam reais quando são observadas. Assim sendo, quem observa o universo? Alguém certamente responderá "Deus". Ela tem outra opinião. Eu prefiro esperar antes de especular.

Sunday, November 24, 2002

Filmes

La Haine (O Ódio), de Mathieu Kassovitz - O filme que eu sou, segundo um destes testes, é um filme estranho. Os filmes europeus em geral me parecem estranhos. A estranheza deste reside na violência implícita. As ruas, os diálogos, as cores (preto e branco), tudo é hostil, duro e, de alguma forma, chocante. Apesar de vermos apenas dois tiros (compare com um filme policial americano), o filme é muito violento e agressivo. Não faz você se sentir bem, mas é bom.

Det Sjunde Inseglet (O Sétimo Selo), de Ingmar Bergman - O filme que o André é, segundo o mesmo teste, é um filme muito estranho. Se haviam mensagens escondidas, eu não percebi. Destaque para a caracterização da "Morte", com artifícios semelhantes aos que Neil Gaiman usa em Sandman: características de conceitos abstratos (Sonho, Morte, Destino, etc) traduzidas no comportamento dos personagens. Exemplos:
- Ingmar: "a Morte é traiçoeira", o que fica claro na cena em que ela se finge de padre e ouve a confissão do Cavaleiro;
- Gaiman: "o Sonho é enigmático", um dos traços mais claros de Sandman.
Filme interessante, mas aparentemente nada de mais.
"Redação" de um aluno de sétima série:

"O natal e uma selebrasão do nacimento de jesus que ser dounor um feriado que doda a familia se reune mais os amigos e vais uma sei de natal que damos presendes e gaiamos presendes istoramos japaem damos pregamo conversamos. E adoro o natal e muito bom o natal selepamas o namento de jesus e fasemos festas. Mais dem mais coisas soutamos, asedemos a missa. E muito bom. Mais que eu me esquesa dambem dem o vamoso papai Noel um velhilho que trais presente para todas griansas."

Este texto sustenta a opinião de Lygia Viégas sobre o "ensino continuado", programa que eliminou as reprovações no ensino básico de São Paulo. É realmente impressionante que alguém (Alckmin, governador do estado, por exemplo) tenha coragem de defender a tese de que o ensino público melhorou.

O triste é imaginar que nossos governantes são instruídos o suficiente para saber que a política neoliberal de cortar gastos na educação (meta real do programa) não é aplicável em um país subdesenvolvido. Como se espera desenvolvimento tecnológico e industrial sem conhecimento? Como se espera uma democracia efetiva se os indivíduos não compreendem minimamente o mundo em que vivem? Como se espera justiça social em uma sociedade repleta de ignorância e oportunismo?

Pro inferno com todos. "Ah, o terrorismo, a violência urbana! Que monstros!" Pois sim. O sistema cria os monstros e depois defende um "investimento em segurança". Muito conveniente sob o argumento (cantado por Renato Russo) de que "as guerras geram emprego, aumentam a produção".

Sinceramente, bom mesmo era o mundo do Velho Testamento, em que o poderoso Deus mandava anjos com espadas de fogo dos céus para exterminar os homens maus.

Sunday, November 17, 2002

Evil. Lembra-se daqueles emails que fazem análises numerológicas para concluir que a Microsoft, a Disney ou o gato do vizinho são a Besta? Sempre quis uma análise numerológica que diz que você é 100% Evil? Seus problemas acabaram!!!

evilfinder

Exemplos:

Renato Sousa
Thiago Hirai
André Lima

Tuesday, November 12, 2002

Neon Genesis Evangelion é certamente uma das melhores produções artísticas com que tive contato. O enigmático anime em seu "cenário futurístico pós-holocausto" é apenas pano de fundo para uma profunda caracterização psicológica, tecida com maestria. Apesar de perder para o anime nos aspectos "ação" e, obviamente, música, o mangá realça o contato do leitor com os personagens, dando mais tempo para que este reflita sobre as motivações de cada um.

Atenção, spoiler à frente! Na edição (brasileira) 11, um personagem secundário ganha destaque. O autor enfatiza os conflitos internos de Toji, deixa claro o medo que este sente, mostra o esforço do menino para entrar na batalha, motivado pela esperança de ajudar a irmã. Na 12 (nas bancas em São Paulo), são mostrados aspectos do cotidiano da vida dele, particularmente a afeição secreta que uma colega de classe nutre por ele. E, nesta edição, Toji morre. O protagonista, Shinji, presencia a cena extremamente violenta em que o sistema automático ("dummy plug") destrói, ignorando seus protestos, a unidade EVA em que se encontra seu amigo.

Ao final de "Tingindo o entardecer de negro...", a colega apaixonada aguarda, sem saber da funesta batalha, um impossível encontro com Toji. História forte. Muito boa.

Monday, November 04, 2002

Comprei o CD do Shaman hoje. A FNAC me faz gastar o dinheiro que não tenho. Paciência.

Shaman, pra quem não sabe, é a banda do ex-vocalista, do ex-baterista e do ex-baixista do Angra, com o irmão do último na guitarra. A comparação com a banda anterior é inevitável: O som do Shaman é mais pesado, e, apesar de permeado de instrumentos indígenas, perdeu um pouco das influências brasileiras no som (Holy Land está entre as minhas "obras de arte"). Apesar disso, o som é ótimo, e lembra bastante o som antigo do Angra, principalmente pelo vocal genial do André Matos. Depois de um CD mediano do "novo Angra", é um alívio saber que pelo menos uma parte da banda antiga manteve a qualidade...

Só gostaria de saber porque raios o nome Angra ficou com dois dos integrantes originais, enquanto os três restantes, incluindo o vocalista e compositor de boa parte das músicas, formaram outra banda, com bem menos atenção da mídia. Será que tem algo a ver com a orientação "pop" do "novo Angra"?

Friday, November 01, 2002

Thiago de Mello é um dos meus poetas favoritos. Versando muito sobre a vida, o amor e a fraternidade, traduz em palavras muitos dos meus pensamentos. Segue texto dele.


"OS FUNDAMENTOS

A lenda, porque lenda, é verdadeira.

Assim direi que, mesmo transmitida
por minha boca - pântano de enganos -
é de verdade a herança que te deixo.
Por verdadeira, cala sobre o temp
das coisas que ela conta acontecidas,
das quais nenhum sinal há sobre o mundo.

Só declaram seu tempo coisas findas,
as que perderam fala, mas gaguejam
quando, por loucos, vamos despertá-las
tão tristes nos seus túmulos abertos.
Os olhos imutáveis da verdade
pairando sobre o tempo nos espiam.

Pena. porém, não reste sombra ou rastro
do que, em campo de lenda, floresceu.
Por mais que se andem léguas e se escavem
planícies e penhascos se derrubem,
não se encontra um vestígio, além dos dois
que, irmãos da lenda, intatos permanecem:
o homem e o mundo - sempre recusados
porque são manifestos, são os únicos
sinais que provam todas as verdades.

A lenda, porque lenda, é verdadeira.
Pois o próprio das lendas é a verdade,
como próprio do amor que não se acabe,
que seja fundamento de si mesmo
e fundamente a vida de quem ama."

Faz Escuro mas eu canto, Thiago de Mello, 1926-?

Wednesday, October 30, 2002

Comentário técnico. Substituí o eNetation (que eh lento, sai do ar o tempo inteiro e não funciona direito com o netscape) pelo HaloScan. Os comentários anteriores foram perdidos. Sinto muito, é o preço do progresso.

Tuesday, October 29, 2002

Iä! Shub-Niggurath! Recentemente ouvi a versão da banda The Sins of Thy Beloved (Gothic/Death Metal) do clássico do Metallica "The Thing That Should Not Be". Foi o suficiente pra acordar meu interesse por Lovecraft. Há algum tempo atrás, havia lido todos os textos disponíveis online em duas semanas, nas férias. Revisitando a Lovecraft Library percebi que haviam sido colocados online os textos escritos em colaboração com outros autores, os quais estou lendo atualmente. Por isso não dormi esta noite.

Várias coisas fazem de Lovecraft um grande escritor de horror. A mais valorizada é a capacidade de criar a partir de citações vagas uma mitologia de coesão incrível. Adicionando ainda mais credibilidade, ele não se importava quando seus mitos eram citados em outras histórias, e incluía em suas próprias histórias os mitos de outros escritores. Assim, criou-se o Cthulhu Mythos, uma mitologia que apesar de declaradamente fictícia, inspirou seguidores legítimos, e influenciou seitas como o Satanismo e a Magia Negra, que incluem alguns de seus elementos. De seu livro assumidamente fictício, o Necronomicon, foram lançadas várias falsificações.

Além disso, a interação gradual destes mitos com os protagonistas, que invariavelmente enlouquecem pelo conhecimento que não deveriam ter, criam um clima de medo fantástico. Contribui ainda para este clima o estilo do autor, com frases longas, com vários adjetivos e advérbios, muitos destes arcaicos. Finalmente, a ambientação na Nova Inglaterra (criando as cidades de Arkham (sim, o asilo de Gotham City, e a própria Gotham City foram inspiradas aqui), com a Miskatonic University, Innsmouth, Dunwich e Kingsport por exemplo), e a interação com lugarejos decadentes, aldeões taciturnos e cultistas enlouquecidos completam o cenário.

Finalmente, o uso comum de descobertas científicas recentes à época (como a teoria da relatividade e o planeta Plutão/Yuggoth), contrastando com sua mente aberta ao extremo, que considerava o conhecimento humano ínfimo comparado aos mistérios do universo. Destaque para conceitos utilizados em suas histórias e somente após a sua morte incluídos na ciência "séria", como a noção de universos paralelos (Through the Gates of the Silver Key), a noção da observação/medição como elemento de alteração do sistema (The Haunter of the Dark), e a citação em 1929-30 do lanternas movidas a energia atômica (The Mound).


"What do we know," he had said, "of the world and the universe about us? Our means of receiving impressions are absurdly few, and our notions of surrounding objects infinitely narrow. We see things only as we are constructed to see them, and can gain no idea of their absolute nature. With five feeble senses we pretend to comprehend the boundlessly complex cosmos, yet other beings with wider, stronger, or different range of senses might not only see very differently the things we see, but might see and study whole worlds of matter, energy, and life which lie close at hand yet can never be detected with the senses we have."
(H. P. Lovecraft -- From Beyond)

The most merciful thing in the world, I think, is the inability of the human mind to correlate all its contents. We live on a placid island of ignorance in the midst of black seas of infinity, and it was not meant that we should voyage far. The sciences, each straining in its own direction, have hitherto harmed us little; but some day the piecing together of dissociated knowledge will open up such terrifying vistas of reality, and of our frightful position therein, that we shall either go mad from the revelation or flee from the light into the peace and safety of a new dark age.
(H. P. Lovecraft -- The Call of Cthulhu)


Para terminar, a indicação do meu candidato a presidente. Why vote for the lesser evil?Cthulhu fhtagn.

Sunday, October 27, 2002

Ouvindo Avantasia, The Metal Opera. Descobri com a Raquel, que descobriu com o Teivan. Não achei muito inovador e esta é a crítica que mais comumente ouço sobre o Tobias Sammet, vocalista do Edguy e idealizador do projeto. Apesar disto, os dois discos do projeto são muito bons, metal de qualidade. Preferi o segundo, que é mais melódico e traz músicas excepcionais. Segue o trecho final de Into the Unknown.

"Walking down a misty road into the unknown
Heavy winds may blow into our faces
You can't kill the dream in killing the dreamer
Can't tear it down
Always carry on

Dreamers come and go
But a dream's forever
Freedom for all minds
Let us go together
Neverending ways
Got to roam forever
Always carry on

I've seen dreamers come and go"
Lula

Foto: AP

Em 27 de Outubro de 2002, Luís Inácio Lula da Silva foi eleito Presidente da República. Cansado das péssimas conseqüências sociais da política econômica falha aplicada na última década, o povo elege um representante da esquerda. O povo desconhece o jogo sujo da economia, não reconhece os verdadeiros causadores de sua miséria. O povo sabe apenas que as coisas estão ruins. Sabe da ameaça, muitas vezes já concretizada, do desemprego. Sabe da violência, causada principalmente por este último. O povo sabe que José Serra não representa mudança, e deposita suas esperanças em Lula.

A esperança do povo brasileiro é, paradoxalmente, sua desgraça e sua virtude. Desgraça por facilitar o esquecimento, pondo de lado a perspectiva histórica. Virtude por permitir que continue, que lute - ainda que brandamente - por um país melhor. Lula é um homem do povo. Lula representa a nossa esperança. Se ele pode ou não mostrar a face virtuosa da moeda, criando de fato o pacto social, apenas o tempo nos dirá. Por enquanto, como bom brasileiro, prefiro crer que sim.

Friday, October 25, 2002

A Caros Amigos deste mês traz uma matéria de capa muito boa. O título é "Chega de lixo cultural!" e trata-se de uma entrevista com o maestro Julio Medaglia. As opiniões dele sobre cultura (particularmente música) são muito interessantes, concordo com praticamente tudo. Na referência acima encontra-se uma palhinha da reportagem. Também no site da revista encontramos um lembrete sobre o processo eleitoral de 1989 e uma breve história da vida de Lula, contada por Frei Betto.
Também da Caros Amigos, está nas bancas a terceira edição do especial Che Guevara, um suplemento exclusivo sobre a vida do guerrilheiro. Vale a pena.

Monday, October 21, 2002

Para quem não conhece, Dilbert é um pobre engenheiro que trabalha numa empresa com um chefe imbecil. O lixeiro da tirinha volta e meia aparece e é uma espécie de onisciência. Por que ele é lixeiro? Porque se não fosse não seria engraçado.

Retirado do sítio oficial do Dilbert.

18/10/2002 Dilbert Comic

Wednesday, October 16, 2002

Mirror Mirror

Atendendo ao pedido da Raquel, algumas informações sobre o álbum Nightfall in the Middle-Earth, do Blind Guardian e sobre a obra de Tolkien.

Encontrei uma entrevista do próprio Hansi Kursch, vocalista da banda, falando sobre o álbum. Ele dá explicações breves mas satisfatórias sobre as músicas. Uma coisa interessante (que eu imaginava, mas não tinha certeza) que ele diz é que as músicas são cantadas da perspectiva do bardo Maglor. Outra é que Mirror Mirror fala de Turgon de Gondolin (o que eu achava) e de Finrod de Nargothrond (que eu não sabia).

Um sítio com ótimas informações sobre o universo de Tolkien, muito bem organizado, é a Encyclopedia of Arda. Tirei (e referenciei) algumas coisas de lá.

Além disso, buscas no Google encontram algumas páginas com interpretações das músicas. Em geral elas são suposições pessoais pouco justificadas.

Segue a minha revisão de Mirror Mirror (ainda minha preferida do álbum).

Far, far beyond the island
We dwelt in shades of twilight
Through dread and weary days
Through grief and endless pain
/* Do exílio de Valinor (the island) e da maldição */

It lies unknown
The land of mine
A hidden gate
To save us from the shadow fall
/*De Gondolin e Nargothrond*/

The lord of water spoke
In the silence
Words of wisdom
I've seen the end of all
Be aware the storm gets closer
/*De Ulmo e suas profecias (particularmente da mensagem levada por Tuor)*/

chorus:
Mirror Mirror on the wall
True hope lies beyond the coast
You're a damned kind can't you see
That the winds will change
Mirror Mirror on the wall
True hope lies beyond the coast
You're a damned kind can't you see
That tomorrows bears insanity
/* "Mirror mirror on the wall" me parece licença poética;
"true hope" refere-se aos Valar, únicos capazes de livrar os noldor da maldição de Fëanor;
"damned kind" podem ser os noldor ou Morgoth*/

Gone's the wisdom
Of a thousand years
A world in fire and chains and fear
Leads me to a place so far
/*Da destruição da Dagor Bragollach*/

Deep down it lies my secret vision
I better keep it safe
/*Das cidades-refúgio*/

Shall I leave my friends alone
Hidden in my twilight hall
(I) know the world is lost in fire
Sure there is no way to turn it
Back to the old days
Of bliss and cheerful laughter
We're lost in barren lands
Caught in the running flames
Alone
/*De novo, a terrível Dagor Bragollach*/

bridge:
How shall we leave the lost road
Time's getting short so follow me
A leader's task so clearly
To find a path out of the dark
/*"lost road", a maldição de Fëanor;
Do dever de lutar contra Morgoth, posteriormente "cumprido" na Nirnaeth Arnoediad, a Batalha das Lágrimas Incontáveis*/

chorus:
Even though
The storm calmed down
The bitter end
Is just a matter of time
/*Da profecia de Ulmo*/

Shall we dare the dragon
Merciless he's poisoning our hearts
Our hearts
/*"the dragon", Glaurung, líder das forças de Morgoth na Dagor Bragollach*/

bridge

chorus

Sunday, October 13, 2002

O Renato (um dos autores deste sítio) me informou da existência um projeto interessantíssimo na rede. É uma página que se propõe a responder, fazendo 30 perguntas, qual foi o objeto em que o usuário pensou. Testei com pizza, sexo e mártir. Ele não conseguiu adivinhar o mártir em 30, mas chegou perto: propôs "ser humano". O sistema, pelo que li lá, é baseado em um algoritmo simples de inteligência artificial. Utiliza as respostas já dadas para as mesmas perguntas e os objetos que têm mais em comum com as respostas fornecidas. Se você clicar em "update" ao fim da série de perguntas, ele "aprende" o que você respondeu para aquele objeto. Também indica as contradições entre o que foi dito e o conhecimento dele (o estado anterior da base de dados). Fantástico.

Friday, September 27, 2002

Que adequado este poema que segue. José Serra com menos da metade dos votos de Lula, empatado tecnicamente com Garotinho:

"José

E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, Você?
Você que é sem nome,
que zomba dos outros,
Você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?

E agora, José?
sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio, - e agora?

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse,
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse....
Mas você não morre,
você é duro, José!

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja do galope,
você marcha, José!
José, para onde?"

Carlos Drummond de Andrade (1902-1987)
Em uma das manhãs desta semana tive uma revelação. Lendo um texto do autor do Sinfest, li um trecho do tipo "$100 million dollars to the Google power". E percebi que o nome do santo oráculo (e que, vejam, descobri agora, comemora seu quarto aniversário hoje - como eram mesmo as nossas vidas antes dele?) é baseado no googol (gugol em português de portugal). Googol é um número "inventado" pelo matemático americano Edward Krasner, batizado por seu sobrinho, e que representa 10100 (o 1 seguido de 100 zeros). Especulo que os criadores do Google (nerds) tenham batizado o mecanismo assim como uma referência ao grande número de páginas indexadas ou ao crescente tamanho da Internet. E, pesquisando (como?) mais um pouco, descobri que a sede deles é chamada de Googleplex. Googolplex é 10 elevado a um googol (o 1 seguido de 1 googol de zeros).
Só para dar uma idéia, Carl Sagan dizia que nenhuma quantidade no universo soma um googol. Estima-se que o número de prótons e elétrons necessários para preencher todo o universo seja da ordem de 10110.
Sua vida mudou com esta informação, não é? Não? Paciência.

Saturday, September 21, 2002

A citação, que era a motivação do post anterior, é:

"Voltei-me, e vi debaixo do sol que não é dos ligeiros a carreira, nem dos fortes a batalha, nem tampouco dos sábios o pão, nem tampouco dos prudentes as riquezas, nem tampouco dos entendidos o favor, mas que o tempo e a oportunidade ocorrem a todos."
Eclesiastes, 9:11
O Velho Testamento é cheio de coisas interessantes. Depois de ver uma citação de Eclesiastes em um livro sobre Algoritmos Genéticos que comecei a estudar, resolvi dar uma lida. Segue o Eclesiastes 1. Perceba a questão filosófica da aflição do espírito e da dor associada ao conhecimento. Para quem se interessar, encontrei uma versão online da Bíblia no UOL.

"PALAVRAS do pregador, filho de Davi, rei em Jerusalém. 1:1
Vaidade de vaidades, diz o pregador, vaidade de vaidades! Tudo é vaidade. 1:2
Que proveito tem o homem, de todo o seu trabalho, que faz debaixo do sol? 1:3
Uma geração vai, e outra geração vem; mas a terra para sempre permanece. 1:4
Nasce o sol, e o sol se põe, e apressa-se e volta ao seu lugar de onde nasceu. 1:5
O vento vai para o sul, e faz o seu giro para o norte; continuamente vai girando o vento, e volta fazendo os seus circuitos. 1:6
Todos os rios vão para o mar, e contudo o mar não se enche; ao lugar para onde os rios vão, para ali tornam eles a correr. 1:7
Todas as coisas são trabalhosas; o homem não o pode exprimir; os olhos não se fartam de ver, nem os ouvidos se enchem de ouvir. 1:8
O que foi, isso é o que há de ser; e o que se fez, isso se fará; de modo que nada há de novo debaixo do sol. 1:9
Há alguma coisa de que se possa dizer: Vê, isto é novo? Já foi nos séculos passados, que foram antes de nós. 1:10
Já não há lembrança das coisas que precederam, e das coisas que hão de ser também delas não haverá lembrança, entre os que hão de vir depois. 1:11
Eu, o pregador, fui rei sobre Israel em Jerusalém. 1:12
E apliquei o meu coração a esquadrinhar, e a informar-me com sabedoria de tudo quanto sucede debaixo do céu; esta enfadonha ocupação deu Deus aos filhos dos homens, para nela os exercitar. 1:13
Atentei para todas as obras que se fazem debaixo do sol, e eis que tudo era vaidade e aflição de espírito. 1:14
Aquilo que é torto não se pode endireitar; aquilo que falta não se pode calcular. 1:15
Falei eu com o meu coração, dizendo: Eis que eu me engrandeci, e sobrepujei em sabedoria a todos os que houve antes de mim em Jerusalém; e o meu coração contemplou abundantemente a sabedoria e o conhecimento. 1:16
E apliquei o meu coração a conhecer a sabedoria e a conhecer os desvarios e as loucuras, e vim a saber que também isto era aflição de espírito. 1:17
Porque na muita sabedoria há muito enfado; e o que aumenta em conhecimento, aumenta em dor. 1:18"

Friday, September 20, 2002

Incrível como algumas coisas continuam atuais.

Perfeição
Letra: Renato Russo
Música: Dado Villa-Lobos/Renato Russo/Marcelo Bonfá

Vamos celebrar a estupidez humana
A estupidez de todas as nações
O meu país e sua corja de assassinos
Covardes, estupradores e ladroes

Vamos celebrar a estupidez do povo
Nossa polícia e televisão
Vamos celebrar o nosso governo
E nosso estado que não é nação

Celebrar a juventude sem escolas
As crianças mortas
Celebrar nossa desunião

Vamos celebrar Eros e Thanatus
Perséphone e Hades
Vamos celebrar nossa tristeza
Vamos celebrar nossa vaidade

Vamos comemorar como idiotas
A cada fevereiro e feriado
Todos os mortos nas estradas
E os mortos por falta de hospitais

Vamos celebrar nossa justiça
A ganância e a difamação
Vamos celebrar os preconceitos
E o voto dos analfabetos

Comemorar a água podre
Todos os impostos, queimadas, mentiras e sequestros
Nosso castelo de cartas marcadas
O trabalho escravo e nosso pequeno universo

Toda a hipocrisia e toda a afetação
Todo o roubo e toda a indiferença
Vamos celebrar epidemias
É a festa da torcida campeã

Vamos celebrar a fome
Não ter a quem ouvir
Não se ter a quem amar

Vamos alimentar o que é maldade
Vamos machucar um coração
Vamos celebrar nossa bandeira
Nosso passado de absurdos gloriosos

Tudo o que é gratuito e feio
Tudo o que é normal

Vamos cantar juntos o hino nacional
(A lágrima é verdadeira)
Vamos celebrar nossa saudade
E comemorar a nossa solidão

Vamos festejar a inveja
A intolerância e a incompreensão
Vamos festejar a violência
E esquecer a nossa gente
Que trabalhou honestamente a vida inteira
E agora não tem mais direito a nada

Vamos celebrar a aberração
De toda nossa falta de bom senso

Nosso descaso por educação

Vamos celebrar o horror de tudo isso
Com festa, velório e caixão
Está tudo morto e enterrado agora
Já aqui também podemos celebrar
A estupidez de quem cantou essa canção

Venha, meu coração está com pressa
Quando a esperança está dispersa
Só a verdade me liberta
Chega de maldade e ilusão

Venha, o amor tem sempre a porta aberta
E vem chegando a primavera
Nosso futuro recomeça
Venha, que o que vem é perfeição
Cidade de Deus 2

Fantástico. Documentário, história, disfarçado de filme moderno, com efeitos especiais e boas interpretações. "Documentário" me faz lembrar de outro que reassisti recentemente: Ilha das Flores. E este começa assim: "Existe um lugar chamado Ilha das Flores. Deus não existe." Deus, mencionado como justificativa dos milagres da Cidade de Deus. Milagres...

Durante o filme eu ri alto da violência e do absurdo. O riso foi minha máscara, minha parcela da hipocrisia que visto na presença de outras pessoas (vide Gisele). Se eu estivesse só, talvez chorasse ao invés de rir. O refúgio da indiferença é covardia, chorar é para quem tem coragem. Conformam-se pessoas desumanizadas, individualistas, esquecidas dos seus semelhantes. Não apenas semelhantes, iguais. Travestidos com boa educação e cumprimento das leis, ignoramos milhões de irmãos. Dizemos que não adianta lutar, dizemos que bandido tem mesmo que morrer, reclamamos de futilidades, vivemos por elas. Muito mais importante são os livros, as músicas, a satisfação pessoal. O outro lado está lá porque as coisas são assim, o mundo é mau e injusto, que pena pra eles. Rimos, e só não há tanta maldade neste riso porque somos ignorantes. Vivemos alheios ao "outro lado", ignoramos eles até que apareçam em massacres na TV ou nos assaltem. E aí reclamamos, e voltamos ao nosso pequeno mundo egoísta e sujo.

Chove lá fora e estou quase deprimido, decepcionado comigo e com a humanidade, o fracasso que somos. Vá lá e veja também o outro lado. Perceba como é o país, perceba ao final a foto que predomina. E pare trinta minutos para pensar o que você quer e o que você deve fazer quanto a isto. Se Deus existe, não importa muito. Existem outros seres humanos, iguais a você. Comece não votando em José Serra. O meio justifica alguns bandidos, não todos.

Tuesday, September 17, 2002

Acabei de assistir a Cidade de Deus, um filme excelente.

Seu realismo cru retrata muito bem a minha imagem de Brasil. Não estou dizendo que no país só existe miséria e violência, mas acho que o cenário da favela no Rio de Janeiro serviu para caracterizar muito bem o nosso povo. Nunca morei em favela e mal conheço estado do Rio, mas quase tudo se encaixou com o que compreendo como o jeito brasileiro de ser. A miséria humana e a nobreza de caráter podem assumir vários aspectos, mas no Brasil são recheadas de características bem peculiares.

Acho que as situações típicas pelas quais passa um brasileiro, da infância à vida adulta, permitem (extrapolando um pouco) conceber a mentalidade dos personagens nas situações de miséria retratadas, por mais absurdas que sejam. Gostaria de saber quais são as impressões que esse filme causa a estrangeiros.

É isso... Recomendo fortemente.

Sunday, September 15, 2002

Domingo a noite me deixa quase triste, então resolvo ouvir Cranberries. Uma das minhas músicas preferidas. (Assim como a Raquel, tenho uma certa predileção por músicas que falam do absurdo das guerras)

"War child
Cranberries

Who will save the war child baby?
Who controls the key?
The web we weave is thick and sordid,
Fine by me.

At times of war we're all the losers,
There's no victory.
We shoot to kill and kill your lover,
Fine by me.

War child, victim of political pride.
Plant the seed, territorial greed.
Mind the war child,
We should mind the war child.

I spent last winter in New York,
And came upon a man.
He was sleeping on the streets and homeless,
He said, "I fought in Vietnam."

Beneath his shirt he wore the mark,
He bore the mark with pride.
A two inch deep incision carved,
Into his side.

War child, victim of political pride.
Plant the seed, territorial greed.
Mind the war child,
We should mind the war child.

Who's the loser now? Who's the loser now?
We're all the losers now. We're all the losers now.

War child. War child."

Monday, September 09, 2002

Eu também vou comentar o mesmo assunto dos últimos posts...

Também acho que o ataque não foi à liberdade... O que tornou o fato um absurdo, a meu ver, foi o fato de ter resultado na morte de milhares de pessoas.

Ataques terroristas sempre querem passar alguma mensagem. Atacar um centro financeiro não me parece um insulto à liberdade. Atacar a casa branca também não, mesmo que os Estados Unidos se auto-intitulem o país da liberdade, da democracia, etc...

A estátua da liberdade estava ali do lado e, no entanto, o que foi atacado foram as torres gêmeas... Sinceramente, acho que se quisessem chocar o mundo com um "nós somos contra a liberdade", este seria um alvo muito mais razoável.

Quanto à ênfase que a mídia deu ao ocorrido, também concordo com o Japa: ela está interessada na notícia, e não nas vidas. Isso, no entanto, não me espanta... Por quê?

Por que isso é recorrente em todas as esferas da sociedade. O problema não é com a mídia, e sim com o homem. O homem individualista leva o individualismo ao trabalho. Quando está no controle de uma empresa, não está preocupado em maximizar a qualidade de vida do funcionário, mas em maximizar os lucros da empresa, o que é de certa forma coerente com o "eu quero me dar bem". Para os veículos de notícias, maximizar o lucro é passar a informação que vai render mais dinheiro. O mesmo vale para chefes de nação, que quando precisam ferrar outros países -- e têm poder para tanto -- o fazem numa boa, num egoísmo coletivo (queremos o melhor para o nosso país, o resto que se vire), ou quando ferram o próprio país com corrupção, visando riquezas pessoais. Pode-se estender esse raciocínio para os bancos e sua agiotagem, para partidos políticos que não aceitam propostas de outros partidos, para pessoas que sonegam impostos, para os que sujam as ruas da cidade, e por aí vai...

Na minha opinião, isso não é maldade inata... É a maneira como pode agir alguém que aprendeu a se considerar o próprio Deus, a procurar o bem-estar próprio acima de qualquer coisa.

Os terroristas, por sua vez, não agem de maneira individualista, mas de maneira fundamentalista. Não acho justo considerar que o islamismo em si prega a violência, já que existem tantos muçulmanos que até lutam pela paz no mundo. Acho que o problema está na concepção que alguns deles têm da religião, e não na religião em si. Problema, aliás, que o cristianismo já passou.
Comentando o último post e desenvolvendo:
Concordo com tudo exceto a menção de ter sido um "ataque à liberdade". É sabido que o neoliberalismo (ou "capitalismo selvagem", como prefiro) tão defendido pelos americanos restringe muitas liberdades (olhe a miséria no mundo). Mais grave que isto são as restrições impostas pelo estado norte-americano, o poderoso tio Sam com suas intervenções militares impunes a meio século. Também sou contra as divisões territoriais, mas uma vez que elas existam e se manifestem (os estados nacionais só existem por causa delas), não podem ser ignoradas. O ataque foi absurdo, sim, mas muito antes de ser um ataque às liberdades individuais foi um ataque a uma potência opressora e que (ela, a potência, não o povo) mereceu este ataque.
Não me impressiono com as mortes de civis, apesar de lamentá-las. Civis morrem todos os dias de formas muito mais cruéis. E a grandiosa democracia (a grande farsa da era, a grande mentira, odiosa forma de governo) vê estes problemas, sabe que contribui para eles e nada faz; defende os lucros acima de tudo. O Deus desta doutrina é o dinheiro.
Acho absurdo todo estardalhaço da mídia em torno do fato. Se as vidas são tão importantes, mostrassem todos os dias as nossas crianças morrendo de fome, os velhos abandonados nos hospitais, as tribos africanas vítimas da AIDS. Não é a vida que é importante, é a notícia. Dinheiro acima de tudo, ética só existe nos acordos comerciais entre cavalheiros de terno.
Tudo bem que se reclame dos "terroristas" (por sinal, todas as provas apareceram de forma muito conveniente e apontaram inimigos mais convenientes ainda), eles agiram contra a humanidade. Mas não esqueçamos que os maiores assassinos estão impunes e continuam nos observando do alto de seus tronos.

Sunday, September 08, 2002

And then there was silence...



No dia 11 de Setembro de 2001, dois aviões chocaram-se contra as torres gêmeas do World Trade Center. No dia, considerei um ataque contra os Estados Unidos. Hoje considero um ataque contra a humanidade. Pois após o fato, percebi o quanto é estúpido dividir as pessoas pelo local onde nascem. Odiar os "americanos" porque nasceram do lado da linha imaginária que é governado por pessoas que acreditam que a melhor maneira de ajudar "seu" povo é explorar o outro lado da linha. E considerar que um ataque do lado de lá desta linha não tem nada a ver comigo.



Depois, foi verificado que o ataque não se dirigiu às torres monumentais, que eram apenas concreto e aço, nem às pessoas, mas a um ideal. Foi um ataque à liberdade, à mesma liberdade que garantia aos muçulmanos residentes nos Estados Unidos o direito de exercer sua religião. Pois foi deixado claro, que além do cunho político, havia no massacre um cunho ideológico, contra a defesa das liberdades individuais. E isto eu considero não só como um ataque à humanidade, mas um ataque pessoal contra mim.



E um ano depois, com medo de novos ataques, muitas pessoas do lado errado da linha mais uma vez terão medo. Outras sairão às ruas, orgulhosas, com a bandeira da sua "pátria", ratificando a divisão da humanidade entre "americanos" e "não-americanos", como se algum dos lados fosse melhor, ou feito de algo diferente do outro. E seu governo, legitimado por este "patriotismo", continuará tomando atitudes que alimentarão o ódio contra si mesmo, seu "país" e "seu" povo.



Eu não vou sair com uma bandeira americana, brasileira, ou de nenhum outro "Estado". Nem com uma bandeira branca, pois estamos em guerra, em guerra contra nós mesmos (como todas as guerras). Se uma bandeira deve ser erguida pela humanidade, é uma bandeira amarela. Para indicar que nosso grande "navio" está infectado com a Peste, que desta vez é causada não por outra espécie, mas por nós mesmos. E a doença chama-se estupidez.






Citação do dia :


No man is an island, entire of itself; every man is a piece of the continent, a part of the main. If a clod be washed away by the sea, Europe is the less, as well as if a promontory were, as well as if a manor of thy friend's or of thine own were: any man's death diminishes me, because I am involved in mankind, and therefore never send to know for whom the bell tolls; it tolls for thee.



Nenhum homem é uma ilha, inteira por si só; todo homem é um pedaço do continente, uma parte do todo. Se um pedaço de terra é levado pelo mar, a Europa é diminuída, assim como um promontório, assim como o solar de seu amigo ou o seu mesmo: A morte de qualquer homem me diminui, porque sou parte da humanidade. Assim, nunca pergunte por quem o sino toca; ele toca por você.



(A pontuação foi modificada na tradução, senão o texto ficaria muito confuso)

John Donne - For Whom the Bell Tolls


Saturday, September 07, 2002

Iniciei na semana passada a leitura dos "Contos Inacabados" do Tolkien. É um pouco estranho como esse assunto tem sido recorrente para mim. Provavelmente tem a ver com o fato de eu gostar muito da história e, portanto, acabar tendo minha atenção voltada para tal. O fato é que de novo o assunto é Gondolin: o primeiro conto, "De Tuor e de sua chegada a Gondolin", descreve a jornada do mensageiro de Ulmo (senhor das Águas e o meu Vala predileto) e sua entrada na cidade secreta. Apesar de incompleto, parando justamente quando ele ultrapassa a última das sete portas que guardam a cidade, o conto é muito bom. E eu ouvia o "Nightfall in Middle-Earth" do Blind Guardian enquanto lia, e exatamente quando terminei o conto começou a tocar "Mirror Mirror". Provavelmente para quem não leu "O Silmarillion" e não conhece esse álbum, essa informação não diz grande coisa, mas os fãs da história devem entender. Essas voltas todas em torno do assunto me fazem lembrar o título da " fonte" de "O Senhor dos Anéis", "There and back again" (o nome do livro vermelho escrito pelo Bilbo). E caí de novo no mesmo assunto. Impressionante, não?

Sunday, September 01, 2002

Freqüentemente vejo pessoas reclamando do frio e dos dias nublados. Ora, são estes justamente os meus preferidos. Hoje esfriou em Campinas, após a chuva de ontem. E o frio é até agradável, não confortável, de fato, mas estimulante. E este frio me remete a muitos dias vividos no sul, e apesar de trazer alguma tristeza e melancolia, me parece muito melhor para pensar e refletir do que os dias mornos ou quentes do verão. Existe uma grande beleza nas folhas secas que caem e na solidão das grandes nuvens velozes.

E, além do mais, os dias frios são muito melhores para ler. Falando em ler (e dando alguma utilidade ao comentário), finalizei "O Processo" de Franz Kafka na semana passada. Minha opinião a respeito do Kafka mudou com a leitura deste livro. Talvez "A Metamorfose" não tenha me impressionado muito pelo fato de eu já conhecer a história e a "moral" da obra. Como "O Processo" era desconhecido e é bem mais longo, pude ter um contato maior com a tão citada "atmosfera kafkiana". E predominam a alienação e o absurdo. Durante a leitura dos primeiros capítulos, tive uma sensação semelhante à provocada por "A Liberdade é Azul" (filme ótimo, por sinal - quando terminou fiquei olhando pensativo para a tela vazia da televisão por um bom tempo). O texto flui facilmente, e as descrições são surpreendentemente precisas ao falar dos absurdos todos. O personagem principal é a personificação da alienação e, embora tenha seus rompantes de libertação, é muito indiferente ao mundo. Aliás, o mundo todo parece sujo e mau, combinando perfeitamente com a acusação desconhecida. Muito bom.
Uma das minhas músicas preferidas do Angra.

"Reaching Horizons

Rainy clouds covered up the sunny sky
Now I know I'll sleep alone tonight
Tears and prayers will be taken by the rain
Fear and loneliness in my dreams
And I know I'll never be the same
Living this tragedy insane
All I wanna be is to be free with you, with me
I don't blame the fate but it's still hard to face the truth
It was all just like paradise
Just like we wanted it to be
Far beyond the reason rest our lives
Eternity denies the guilty of reality senselessness
Fly high reaching skies
Two eagles flying to be free
Moments of madness will be left behind
The same horizon but in different lands"

-Angra

Thursday, August 29, 2002

Acabo de descobrir Hilda Hilst, lendo o blog da Sam. Gostei.
Abaixo um poema dela:

"Ávidos de ter, homens e mulheres caminham pelas ruas.
As amigas sonâmbulas, invadidas de um novo a mais querer,
Se debruçam banais, sobre as vitrines curvas.
Uma pergunta brusca, enquanto tu caminhas pelas ruas.
Te pergunto: E a entranha?
De ti mesma, de um poder que te foi dado
Alguma coisa clara se fez? Ou porque tudo se perdeu
É que procuras nas vitrines curvas, tu mesma,
Possuída de sonho, tu mesma infinita, maga,
Tua aventura de ser, tão esquecida?
Por que não tentas esse poço de dentro
O incomensurável, um passeio veemente pela vida?

Teu outro rosto. Único. Primeiro. E encantada
De ter teu rosto verdadeiro, desejarias nada."

(Júbilo Memória Noviciado da Paixão(1974) - Poemas aos Homens do nosso Tempo - XIII)

Tuesday, August 27, 2002

Um metacomentário (meta no nível do blog). Percebi hoje que o Gondolin agora é encontrado pelo mecanismo de busca do Google (que, a propósito, é uma das melhores coisas da Internet e um dos melhores softwares que já vi). Se você digitar "gondolin" e pedir as páginas em português, este será o primeiro sítio (o que vocês acham de sítio no lugar de site?) da lista. E o mais engraçado é: olhando hoje as páginas de onde este sítio foi referenciado, encontrei uma busca por relatório de laboratório de física. O que me deixa deveras impressionado com o fenômeno Internet.

Monday, August 26, 2002

Abaixo, a letra de uma das melhores músicas do disco 2 do último álbum do Dream Theater, minha recomendação cultural da semana. O disco 1 é uma coisa completamente experimental, muito estranha. Depois de ouvir uma dezena de vezes pode ser que você goste e pode ser que você odeie. O disco 2 é progressivo e é ótimo, muito bom mesmo. Lembra um pouco Pink Floyd.

Six Degrees of Inner Turbulence

6th Degree - Six Degrees of Inner Turbulence
music by Myung, Petrucci, Portnoy, Rudess

"VI. SOLITARY SHELL - [lyrics by John Petrucci] [05:47]

He seemed no different from the rest
Just a healthy normal boy
His mama always did her best
And he was daddy's pride and joy

He learned to walk and talk on time
But never cared much to be held
and steadily he would decline
Into his solitary shell

As a boy he was considered somewhat odd
Kept to himself most of the time
He would daydream in and out of his own world
but in every other way he was fine

He's a Monday morning lunatic
Disturbed from time to time
Lost within himself
In his solitary shell

A temporary catatonic
Madman on occasion
When will he break out
Of his solitary shell

He struggled to get through his day
He was helplessly behind
He poured himself onto the page
Writing for hours at a time

As a man he was a danger to himself
Fearful and sad most of the time
He was drifting in and out of sanity
But in every other way he was fine

He's a Monday morning lunatic
Disturbed from time to time
Lost within himself
In his solitary shell

A momentary maniac
With casual delusions
When will he be let out
Of his solitary shell"

Friday, August 23, 2002

Putz, gostei do resultado... É um filme de arte muito doido do Bergman. Assisti recentemente e acho que teve muita coisa que eu não entendi. Bastante filosófico.





Você é "O sétimo selo" de Ingmar Bergman. Você é intelectual, preocupado com ocultismos. E além de tudo é um mistério!!

Faça você também Que
bom filme é você?
Uma criação deO
Mundo Insano da Abyssinia



Um teste que encontrei no blog da Sam. Nunca vi o filme, mas agora fiquei curiosíssimo.




Você é "O ódio" de Mathieu Kassovitz. Você é inconformado(a), revoltado. Vive se metendo em brigas, mas tem muita atitude.

Faça você também Que
bom filme é você?
Uma criação deO
Mundo Insano da Abyssinia

Tuesday, August 20, 2002

Terminei de ler dois livros. Um ontem e um hoje. O primeiro é Ramsès, de um autor francês chamado Christian Jacq. Subcultura, mas diverte. Precisava de um livro em francês, esse livro tava barato, e eu tava curioso pra saber do que se tratava. Já sei.

O outro é A morte de Ivan Ilitch, do Tolstoi. Sarcasmo... sempre é bom alimentá-lo de vez em quando... O livro tem uma crítica bem legal entre o que é viver bem e viver como considera-se viver bem. Livro curto...

Ao que parece agora vou ter muito tempo para desafogar minha "fila de leitura". Aulas monótonas, professores que cobram freqüência. O do Tolstoi por exemplo, foi só nas aulas de hoje.
Um texto meu. O segundo a aparecer nesta página. O primeiro texto original que postei foi retirado por mim mesmo minutos depois por falta de qualidade. Às vezes posso ser excessivamente auto-crítico. [Prova disso, a cada vez q olhei o resultado final editei esse post. Já foram umas 4 ou 5 vezes...]

Antes do texto, uma explicação. Há muito tempo (3 ou 4 anos), escrevi um poema épico-lírico num tom meio infantil, chamado "{alguma coisa} Parte 1 - O Cavaleiro e a Deusa" (ou seria "O Cavaleiro e a Deusa - Parte 1"?). O que importa é: Após digitar, joguei a cópia em papel fora. Não queria que conhecidos lessem. Enviei o poema para uma lista de discussão (Arca-Trails). Com o tempo, formatei o HD algumas vezes, acabando com a cópia local do poema. Um dia a lista foi "reiniciada" com outro nome, e o histórico de mensagens do YahooGroups apagado. Fim das cópias do poema. O poema foi pro limbo dos poemas. Lembro vagamente da história e de uma ou duas frases.

Mas informação não pode ser apagada impunemente. No mínimo custa uma energia proporcional a k.T.ln2 (constante de Boltzmann vezes temperatura absoluta vezes logaritmo natural de 2) por bit de informação. É sério, tá numa lecture note de computação quântica do Preskill. Um tal de Landauer mostrou isso em 1961.

Devido a algumas conversas recentes, me lembrei deste poema este fim de semana. Resolvi terminar o iniciado, mas mudando de estilo. Inspirado por um blog bastante melancólico que li [Diga-se de passagem, o visual da página é muito adequado, achei as figuras o máximo...], resolvi dar um final mais "dark" ao poema. Novamente a auto-crítica falou mais alto, e não consegui aceitar os versos que escrevia. Como precisava escrever, fiz uma narração.

Infelizmente o estilo é meio "ausência de estilo". Parágrafos curtos, palavras soltas... Tão pouco estilo que chega a ser quase modernista (Sarcasm is your friend). Mas narrações não são o meu forte, e estou satisfeito com o resultado.

Finalmente, o título do texto é o nome de uma magia do RPG Ars Magica. O texto é bastante metafórico, então achei adequado. O outro título (também roubado e em língua estrangeira) vem do nome de uma música da trilha sonora de End of Evangelion.

Espero que o Blogger aceite esse post imenso.

Recollection of Memories Never Quite Lived (Komm Süsser Tod)



Sangue tinge minha espada. O inimigo foi massacrado. Com a proteção Dela, nossa ordem é invencível. Congratulo meus companheiros de batalha, e me dirijo à minha tenda. Preciso agradecer à verdadeira responsável pela vitória, amante secreta e protetora.

Silêncio. Imploro por sua presença. Silêncio. Imagino que ela esteja irritada. Não imagino por que. Ainda silêncio.

Típico. Não de uma divindade, mas de uma mulher. Após este comentário irônico, ela finalmente decide me responder. Porém, ao invés da ironia doce habitual, uma voz séria.

Por que a reprovação, me pergunto. Não fiz meu dever? Restaurei a ordem, venci. Qual o meu erro?

Ciúmes. Típico. Ciúmes de minha ordem, da batalha em si. Lutei em seu nome, mas minha motivação era outra. A batalha, pura e simples. Ela sabe, e, mais mulher que nunca, é incapaz de suportar o fato de não ser minha senhora absoluta.

Silêncio novamente. Abandonado. Sei que é permanente. Saio da tenda e vejo uma confraternização. Me junto a meus companheiros. Vinho para alegrar o espírito. Vinho para esquecer. Vinho para fugir.

Agora todos dormem. Nestas horas costumava conversar com ela. Pego minha espada e resolvo seguir meu caminho. Sozinho.

O sangue ainda em minha espada, já seco. Me sinto mais confortável assim. A mancha escura me lembra da batalha, do prazer da batalha. Mas também me lembra dela. Resolvo limpar a mancha. O brilho da espada reflete um sorriso.

Não, não é ela. É a Morte que sorri pra mim. E finalmente a entendo. E ela me entende. Entende meu amor pela batalha. Sinto falta do sangue em minha espada.

.....

Sangue novamente. Fresco e vermelho. Minha nova senhora sorri pra mim. Vejo um vilarejo à distância, e, deixando para trás os cadáveres de meus companheiros, parto rumo a um novo massacre.

Nasce a Besta.

Friday, August 16, 2002

Votarei no Lula, está decidido. O Ciro tinha ganho um pouco da minha simpatia, mas perdeu. Inclusive pelo comportamento dele, como a Raquel bem comentou recentemente.
O fator novo, que foi decisivo, foi ouvir a opinião de um professor do Instituto de Economia da Unicamp, o Vasco. Ele falou sobre um assunto que é um pouco difícil para o cidadão comum, sem muito conhecimento de economia e das dinâmicas que a regem, conhecer: disse que o programa de governo do Lula aparenta ser viável, enquanto o do Ciro contém muitos ítens duvidosos ou absurdos. Disse também que votará no Lula. Eu comecei a ler os programas de governo hoje e, sinceramente, acho que o material elaborado pelo PT está bem mais fundamentado. Claro que esta é uma opinião leiga, influenciada ainda pela autoridade de outra opinião, mas mesmo assim tentei fazer uma análise crítica.
O outro fator, que já me fazia preferir o Lula é que, em termos de princípios, ele é mais confiável. Tudo bem que isso não implique necessariamente em um governo voltado de fato para os interesses da nação (vide o sr. FHC ex-marxista), mas é um bom parâmetro. Pelo histórico dele, pelo próprio caráter contestador e defensor dos direitos do povo do partido, eu esperaria de todos (Ciro, Serra), menos dele, uma "traição". Resumindo, se eu tivesse que por a mão no fogo por um deles, poria no Lula.
Recomendo fortemente a análise dos programas dos dois candidatos. O do Lula está linkado acima e o do Ciro pode ser encontrado aqui. Exerçam sua cidadania e sua capacidade crítica, comentem o que acharam disto. Eu acho que política se discute sim, e muito. O ser humano é um ser social e, conseqüentemente, político.

Tuesday, August 13, 2002

Completamente acultural isso. Mas é engraçado.
Coisas inusitadas:
- Antes do show do Blind Guardian, pára a música para um aviso: favor desligar seus celulares. Todos riem.
- Um dia desses, na cantina do Insituto de Biologia aqui na Unicamp; o atendente da cantina e dois conhecidos:
Atendente: "Sem salada?"
Cara: "É, como sempre."
Amigo: "Come salada, faz bem pra você."
Cara: "Nem."
Amigo: "Por quê?"
Cara: "Diminui meu nível trófico."

Monday, August 12, 2002

Dois escritores que li pela primeira vez recentemente: Kafka e Guy de Maupassant. O estilo é "realismo fantástico" (não sei se este é o nome ortodoxo para o estilo), e esta expressão diz tudo. Sinceramente eu esperava mais do Kafka, pois eu sempre ouvi falar dele com os maiores elogios. Talvez pelo fato de eu já conhecer a base de "A Metamorfose" não tenha sido surpreendente. É interessante, claro, e a idéia de descrever o absurdo com naturalidade realmente é original. Mas acho que não existe nada além disso. Alguns dirão que é absurdo querer mais, mas eu queria. Estou com "O Processo" em casa, daqui a algumas semanas descubro se há algo a mais. O Guy de Maupassant, pelo que comentaram comigo, é considerado um dos melhores entre os não-mestres. Algo como o melhor segundo violinista de uma orquestra, creio. Li uma coletânea de contos dele e achei boa. Ele trata o fantástico sob perspectivas mais humanas, muito próximas da loucura. Um dos contos mais famosos, "O Horla", particularmente na versão escrita em primeira pessoa, é de fato muito bom. Para quem queria uma sugestão diferente do usual, aí está.
No sábado visitei o Via Funchal, em São Paulo, para ver o show do Blind Guardian. A casa de shows faz jus à fama, é a melhor que já visitei. Acústica ótima (som vindo de todos os lados e sem distorção nenhuma), pista bem feita. O show foi praticamente perfeito. O bateirista oficial se machucou e não pode vir, mas foi bem substituído pelo batera do Rhapsody.
Tocaram poucas músicas do álbum novo, o que foi bem adequado porque muitas delas não são boas para show e outras tantas tem um "coral de fundo" que não teria como fazer ao vivo. Das antigas, tocaram quase todas as minhas preferidas. Pra mim só faltou mesmo "Time Stand Still", que fala da batalha de Fingolfin contra Morgoth, minha cena preferida do Tolkien. O público conhecia as músicas e acompanhou quase todas. Cantaram "Happy birthday" e "Parabéns a você" para o Hansi, que estava de aniversário. Destaque para "The Bard's Song", cantada do início ao fim pela platéia inteira. O vocalista inclusive parou de cantar durante uma boa parte da música porque ficou emocionado. E o melhor, como sempre, no final: Mirror Mirror, a música que me fez começar a ouvir BG e que, por sinal, tem tudo a ver com Gondolin. Certamente uma das minhas músicas preferidas. Para quem não conhece a banda, é uma ótima forma de começar.
Abaixo a letra de "The Bard's Song". Emocionante.

"Now you all know
The bards and their songs
When hours have gone by
I'll close my eyes
In a world far away
We may meet again
But now hear my song
About the dawn of the night
Let's sing the bards' song

Tomorrow will take us away
Far from home
No one will ever know our names
But the bards' songs will remain
Tomorrow will take it away
The fear of today
It will be gone
Due to our magic songs

There's only one song
Left in my mind
Tales of a brave man
Who lived far from here
Now the bard songs are over
And it's time to leave
No one should ask you for the name
Of the one
Who tells the story

Tomorrow will take us away
Far from home
No one will ever know our names
But the bards' songs will remain
Tomorrow all will be known
And you're not alone
So don't be afraid
In the dark and cold
'Cause the bards' songs will remain
They all will remain

In my thoughts and in my dreams
They're always in my mind
These songs of hobbits, dwarves and men
And elves
Come close your eyes
You can see them too"

Monday, August 05, 2002

Assisti na sexta Minority Report e no domingo Um grande garoto. Gostei dos dois. Tudo que eu entendo de cinema são as minhas impressões, então não esperem encontrar comentários técnicos ou críticos ou qualquer outra coisa elaborada abaixo. E se você ainda não viu os filmes e não gosta de saber como são, pare de ler aqui.
O roteiro do primeiro é simples, ou mesmo simplório. Os efeitos são bons, embora o cenário futurista pareça, à primeira vista, exagerado. O que me fez gostar do filme foi a mensagem repetida algumas vezes "you have choice", deixando claro que o futuro depende de nós, não está determinado.
O segundo tem uma história meio boba, mas uma trilha sonora bem colocada e um elenco bom. E tem uns comentários engraçadíssimos do protagonista, que é um cara total e reconhecidamente superficial. Daqueles filmes para você sair feliz do cinema, porque, apesar de bobo, é alegre e é bonito o que ele tenta passar.
Terminei ontem o segundo livro que leio de Lewis Carrol, (o primeiro foi Alice's Adventures in Wonderland), Through the Looking-Glass (and what Alice found there). Não é nada de muito especial, mas é bom em vários aspectos. Para quem gosta de nonsense é ótimo. Parece um sonho, com todos os elementos absurdos e quase reais. Uma das coisas que eu achei mais interessante é o fato de, em muitas cenas, os personagens serem "coerentes em seu nonsense" e a Alice parecer errada ou louca. Exemplo:

`Come, we shall have some fun now!` thought Alice, `I'm glad they've begun asking riddles - I believe I can guess that,` she added aloud.
`Do you mean that you think you can find out the answer to it?` said the March Hare.
`Exactly so,` said Alice.
`Then you should say what you mean,` the March Hare went on.
`I do,` Alice hastily replied; `at least - at least I mean what I say - that's the same thing, you know.`
`Not the same thing a bit!` said the Hatter. `Why, you might just as well say that "I see what I eat" is the same thing as "I eat what I see"!`
`You might just as well say,` added the March Hare, `that "I like what I get" is the same thing as "I get what I like"!"
`You might just as well say,` added the Dormouse, which seemed to be talking in its sleep, `that "I breathe when I sleep" is the same thing as "I sleep when I breathe"!`

Se bem que isto é do primeiro livro e nem foi um exemplo assim tão bom.
O final do livro é um poema (lembram que o outro também começou com um?) que eu acho que foi exatamente o espírito do autor ao escrever o livro. Acho que lerei esta coisa para os meus filhos...

"A boat, beneath a sunny sky
Lingering onward dreamily
In an evening of July -

Children three that nestle near,
Eager eye and willing ear,
Pleased a simple tale to hear -

Long has paled that sunny sky:
Echoes fade and memories die:
Autumn frosts have slain July.

Sitll she haunts me, phantomwise,
Alice moving under skies
Never seen by waking eyes.

Children yet, the tale to hear,
Eager eye and willing ear,
Lovingly shall nestle near.

In a Wonderland they lie,
Dreaming as the days go by,
Dreaming as the summers die:

Ever drifting down the stream -
Lingering in the golden gleam -
Life, what is it but a dream?"

Wednesday, July 31, 2002

Um protesto cultural hoje. Lembrando de um comentário da Sam e de uma notícia que li recentemente, resolvi comentar o assunto.
Se o leitor entrar na página da Academia Brasileira de Letras, encontrará o seguinte texto:

"A Academia, trabalhando pelo conhecimento [...], buscará ser, com tempo, a guarda da nossa língua. Caber-lhe-á então defendê-la daquilo que não venha das fontes legítimas, - o povo e os escritores, - não confundindo a moda, que perece, com o moderno, que vivifica. Guardar não é impor; nenhum de vós tem para si que a Academia decrete fórmulas. E depois, para guardar uma língua, é preciso que ela se guarde também a si mesma, e o melhor dos processos é ainda a composição e a conservação de obras clássicas."

Machado de Assis,
Academia Brasileira de Letras
7 de dezembro de 1897

Pergunto-me eu, pobre mortal, distante dos grandes criadores da nossa língua materna: que terá acontecido para acolherem um escritor medíocre como Paulo Coelho? Os que já leram algum livro dele hão de concordar sobre a mediocridade. Histórias "de novela", com um tom místico (que por sinal, ele aparentemente adora assumir), sem estilo. Onde fica a guarda da língua, a proteção contra a moda? Se o Pitanguy já era controverso (e este eu nem discuto, já que nunca li um livro dele), que dizer deste indivíduo? E ainda tem o fato de não aceitarem o Vinícius...

Sunday, July 28, 2002

Resolvi falar de música... Mais precisamente, de Chico Buarque, talvez o maior compositor da MPB, certamente o maior letrista. Decidi não colocar uma música de crítica social ou à ditadura, porque às vezes as pessoas pensam que isso é a única coisa que ele sabe fazer de bom (não que isso não seja legal).

Então eis aqui um samba simples, mas muito legal, com uma letra bem trabalhada. É do começo da carreira dele. Pena que não dá pra colocar a música, porque a melodia é muito boa.

Januária
(Chico Buarque/1967)

Toda gente homenageia
Januária na janela
Até o mar faz maré cheia
Pra chegar mais perto dela
O pessoal desce na areia
E batuca por aquela
Que, malvada, se penteia
E não escuta quem apela

Quem madruga sempre encontra
Januária na janela
Mesmo o sol quando desponta
Logo aponta os lados dela
Ela faz que não dá conta
De sua graça tão singela
O pessoal se desaponta
Vai pro mar levanta vela

Friday, July 26, 2002

Obrigado.

Como é bom quando alguém diz que o final de um livro ou filme é surpreendente. Com o Sexto Sentido, não me contaram o fim, mas de tanto dizerem que era surpreendente eu concluí o mesmo [eu quis dizer descobri o final. só após enviar o texto percebi que estava extremamente ambíguo]. . E até hoje não assisti o filme. Estou certo que no meio do Crime e Castigo, quando criar coragem para lê-lo, eu já saberei o final só pelo fato de ser surpreendente. Gostaria de deixar claro que não estou de mau humor, e estou apenas sendo sarcástico.

Quanto à Alice, um ótimo livro. Bastante irônico, e com um enredo muito interessante. Segue meu trecho preferido, que se adequa à maioria dos meios sociais que freqüento :

'But I don't want to go among mad people,' Alice remarked.
'Oh, you can't help that,' said the Cat: 'we're all mad here. I'm mad. You're mad.'
'How do you know I'm mad?' said Alice.
'You must be,' said the Cat, 'or you wouldn't have come here.'

(Lewis Carroll, Alice in Wonderland)
Terminei de ler, hoje pela manhã, Crime e Castigo, do Dostoievski. Muito bom. O conflito entre bem e mal, temática do livro, aparece não apenas na personagem principal, Raskolnikov, como também em quase todas as outras personagens. O final me surpreendeu, e gostei da surpresa. Recomendo.
Após a leitura, senti vontade de escrever. Já tinha comentado esse tema vagamente em uma conversa com a Dani. Além disso, recebi um elogio recentemente da Sam e li ontem um conto interessante do Leonardo. Acho que estes três fatores me estimularam bastante.
Este é o meu primeiro conto. Não escrevo um texto narrativo desde o primeiro grau. Me habituei às dissertações e nunca mais treinei nem estudei narração. Espero, desta forma, justificar eventuais falhas no texto. Todo tipo de comentário é bem-vindo. Peço que me digam sinceramente o que acharam.

Criei uma cópia do conto, já que os servidores do Instituto de Computação não andam muito estáveis.

Thursday, July 25, 2002

Devido a um impulso repentino motivado por uma leitura de um texto da Raquel, fui agora há pouco até a bilbioteca do Instituto de Estudos da Linguagem aqui da Unicamp e peguei Alice's adventures in Wonderland and Through the looking-glass, o clássico de Lewis Carroll. Há muito eu queria lê-lo e agora estou decidido. Comentarei minhas impressões quando terminar. Abaixo, o poema que inicia o livro.

All in the golden afternoon
Full leisurely we glide;
For both our oars, with little skill,
By little arms are plied,
White little hands make vain pretence
Our wanderings to guide.

Ah, cruel Three! In such a hour,
Beneath such dreamy weather,
To beg a tale of breath too weak
To stir the tiniest feather!
Yet what can one poor voice avail
Against three tongues together?

Imperious Prima flashes forth
Her edict 'to begin it':
In gentler tones Secunda hopes
'There will be nonsense in it!'
While Tertia interrupts the tale
Not more than once a minute.

Anon, to sudden silence won,
In fancy they pursue
The dream-child moving through a land
Of wonders wild and new,
In friendly chat with bird or beast -
And half believe it true.

And ever, as the story drained
The wells of fancy dry,
And faintly strove that weary one
To put the subject by,
'The rest next time -' 'It is next time!'
The happy voices cry.

Thus grew the tale of Wonderland:
Thus slowly, one by one,
Its quaint events were hammered out -
And now the tale is done,
And home we steer, a merry crew,
Beneath the setting sun.

Alice! A childish story take,
And, with a gentle hand,
Lay it where Childhood's dream are twined
In Memory's mystic band,
Like pilgrim's wither'd wreath of flowers
Pluck'd in a far-off land.
"Alguem certamente havia caluniado Josef K., pois uma manha ele foi detido sem ter feito mal algum."

Com essas palavras Franz Kafka inicia o romance O Processo, uma das obras mais importantes da literatura universal, ainda que inacabada.

O livro conta a historia de um homem que, apos ser processado sem saber por que motivo ou por quem, tem sua vida totalmente modificada. Com uma atmosfera genuinamente kafkiana e repleto de ironia, o romance retrata a alienacao e a burocracia que circundam os tribunais, alem da angustia do acusado.

Tuesday, July 23, 2002

E um do Vinícius, que acabei de conhecer. Curtinho e divertido.

POÉTICA

Outros que contem
Passo por passo:
Eu morro ontem
Nasço amanhã
Ando onde há espaço -
Meu tempo é quando.

Vinicius de Moraes, 1913-1980
Uma contribuição de fato cultural, hoje. O meu poema preferido atualmente, praticamente um mote. Decorei ele.

O RIO

Ser como o rio que deflui
Silencioso dentro da noite.
Não temer as trevas da noite.
Se há estrelas nos céus, refleti-las.
E se os céus se pejam de nuvens,
Como o rio as nuvens são água,
Refleti-las também sem mágoa
Nas profundidades tranqüilas.

Manuel Bandeira, 1886-1968

Sunday, July 21, 2002

Na minha opinião quadrinhos (tanto comics quanto mangá) são cultura, ou pelo menos podem ser. :)
Pra quem curte mangá eu tenho quatro sugestões:

- Naruto
- Hunter x Hunter
- Samurai X (Rurouni Kenshin)
- One Piece

(clique no link pra ir pro site onde você pode baixar os capítulos do mangá, ou ver online, no caso do One Piece)

O primeiro mangá, o mais legal deles, conta a história de Naruto, um garoto de doze anos. Quando ele era recém-nascido, um demônio-raposa chamado Nine-Tails invadiu sua vila e todos os ninja de lá tentaram destruir o monstro. A única forma que encontraram para salvar a vila foi aprisionar seu espírito dentro do bebê (que era órfão, por sinal). Com isso, todos os adultos da vila passam a odiar o menino, e também as crianças vão adquirindo esse ódio por Naruto. Assim, ele cresce em meio a total isolamento social. No presente ele quer se tornar o maior ninja de sua vila, para ser reconhecido por todos. O problema é que ele é extremamente relaxado e tem sérios problemas de auto-afirmação, aprontando de tudo pra chamar a atenção. Depois são introduzidos na história outros personagens interessantes e carismáticos. Os pontos fortes são a introspecção psicológica, a comédia, o drama e os combates, que são decididos em geral muito mais pela astúcia do que pelo poder, ou pelo menos são cheios de surpresas, com as técnicas ninja, que não têm nada de habilidade física, são praticamente magia

Bom, já escrevi demais, acho que não vai dar pra fazer sinapses dos outros mangás. De qualquer forma fica a indicação...
Notas sobre os posts anteriores.
- Os dois textos são de autoria dos três responsáveis por esta página (veja acima).
- Perceba, em II, o início e o final do texto.
- Se você não entendeu, não pergunte. Nós também não.
II


Indefinidamente continuaria equacionando, tão absoluto quanto a convergência geométrica dos inefáveis burgueses africanos. Inconseqüentemente desmistificaria toda e qualquer abundância relativística, afinal, que gira, gira. Ou seríamos todos transpostos e intercalados à aleatoriedade transcendente dos fardos alevinos das cimitarras. A nulidade do xilema e do floema provocava ira, adrenalina: desferia o último golpe e derrubava árabes antigravitacionais de suas órbitas elípticas. Árabes estes, neste fato lancinante, oriundos de arcaicas profecias, que partiam-se e retomavam sua forma cósmica. Astros retumbantes e planetas heterogêneos sorriram, e todos se regozijaram. Anunciava que o fim estava próspero a recursividade, iniciando um novo ciclo que indefinidamente continuaria...
Resolvi publicar dois fantásticos textos que escrevi em conjunto com o André e o Renato, ano passado. Digo textos porque não é possível classificá-los de forma mais específica. A técnica de produção é simples: vários autores e nenhuma coerência, exceto a gramatical. O resultado, pelo menos do nosso ponto de vista, é muito engraçado. Talvez para o resto do mundo seja uma droga. É bem provável, aliás. Mas não podíamos deixar de mostrar nossa "elaboradíssima" produção artística.
Abaixo, o primeiro, escrito na Biblioteca Central da Unicamp em um dos fastidiosos períodos reservados a relatórios (de laboratório de física, provavelmente).

"O tom berrante do extintor de incêndio e a luminosidade convergente defenestravam inconseqüentemente o status quo da política de colocação de silogismos.

Diversificavam inconstitucionalmente a eloqüência banal dos menires macedônios, evidenciando a presença de etanol em meu sangue. Dialética. A doce despedida inebriante borbulhava num tom cáustico, convidando avidamente alguém a mais um gole. Eu. Nós todos, refloridos de holocaustos, aguardávamos o fim. Interlúdio. Prólogo.

Livres do tempo após (após?) a explosão do extintor. Mortos. Tão mortos quanto o vermelho vivo (sangue?) do algoz cilíndrico."

Também fui convidado pra editar o blog e minhas opiniões também não refletem a dos outros colaboradores (embora pelo menos as minhas próprias eu acredito que reflitam, por menos paradoxal que possa parecer), até porque eu tenho um pouco de bom senso (mwahahahahah).

Também fiz o teste de Jedi, mas não vou colocar o resultado aqui.

Bom, ainda não sei direito que tipo de coisas colocarei, então não vou colocar nada por enquanto.
Bom, fui convidado pra editar este blog. Como às vezes tenho vontade de escrever algo, mas desanimei logo no começo com meu próprio (falecido) blog, resolvi aceitar. Para o post inicial, vamos a alguns esclarecimentos...

O fato de alguém estar lendo esta página significa que esta pessoa não tem nada pra fazer, e não está vendo televisão, o que demonstra alguma afinidade com o ponto de vista cultural desta página. Ou talvez a TV esteja ligada de fundo, e o leitor esteja apenas ouvindo as propagandas subliminares da mesma. X-Cola é bom pra você.

Eu uso freqüentemente estrangeirismos, na maioria anglicismos. Estou acostumado com eles, leio muitos documentos em inglês (que, queiram os puristas ou não, é a lingua franca atual), e às vezes não lembro (ou não existem) equivalentes em português.

Nem sempre as minhas opiniões refletem a opinião dos outros colaboradores deste blog, e algumas vezes, não refletem nem mesmo minha própria opinião. Sim, há um paradoxo implícito. Eu não preciso ser coerente.

Também vou colocar o resultado do meu teste Jedi aqui. Se ele pode eu também posso.


:: how jedi are you? ::
Assisti ontem o show do Nightwish, no Credicard Hall em São Paulo. Eu tinha ouvido falar mal do lugar, mas pelo menos do local onde fiquei - platéia superior central - a acústica é decente; o local como um todo é muito organizado: nada de tumulto. Para quem não conhece, Nightwish é uma banda finlandesa de metal. Na minha opinião, os grandes diferenciais da banda são o vocal lírico de Tarja Turunen, uma das melhores vozes que ouço atualmente (e não sem mérito, ela estuda canto lírico (inclusive este estudo será motivo de recesso de um ano da banda após a turnê atual)) e a poesia nas letras. Os outros instrumentistas são bons, embora não excepcionais. As músicas em geral são rápidas e bem trabalhadas.
Sobre o show, então.
A performance de palco da Tarja me impressionou. Para quem tem que usar a voz daquela forma, não esperava que ela se mexesse tanto. E de fato é impressionante ouvir, ao vivo, toda aquela voz.
Uma das falhas do show foi ele ter acontecido apenas dois dias após o lançamento do álbum no país. A maior parte do público não conhecia as músicas novas, o que foi um pouco ruim. Mas aparentemente as pessoas receberam muito bem a nova produção da banda.
As músicas que eu lembro que eles tocaram são:
- do álbum novo: Bless the Child, End of All Hope, Dead to the World, Slaying the Dreamer e Beauty of the Beast;
- das clássicas: Sacrament of Wilderness, Come Cover Me, Deep Silent Complete, Tenth Man Down, The Kinslayer, Sleeping Sun, Over the Hills and Far Away e Wishmaster;
- outra: Crazy Train ("thanks to mr. Osbourne", nas palavras deles), tocada pelos homens da banda enquanto a Tarja foi beber água ou qualquer coisa assim no backstage.
Uma pena que não tocaram as minhas preferidas do álbum novo, Ever Dream e Forever Yours. Mas Sleeping Sun foi fantástica e, ao final, toda a platéia gritava "Wishmaster", de forma que eles finalizaram dizendo "We've heard your wishes" e tocando a música. Grande final, apesar de deixar todos com aquele gosto de "quero mais", já que o show durou um pouco menos de duas horas.

Abaixo a letra de Sleeping Sun, uma das minhas músicas preferidas da banda. Perceba a poesia...

The sun is sleeping quietly
Once upon a century
Wistful oceans calm and red
Ardent caresses laid to rest

For my dreams I hold my life
For wishes I behold my night
The truth at the end of time
Losing faith makes a crime

I wish for this night-time
to last for a lifetime
The darkness around me
Shores of a solar sea
Oh how I wish to go down with the sun
Sleeping
Weeping
With you


Sorrow has a human heart
From my god it will depart
I'd sail before a thousand moons
Never finding where to go

Two hundred twenty-two days of light
Will be desired by a night
A moment for the poet's play
Until there's nothing left to say

I wish for this night-time...

I wish for this night-time...


Saturday, July 20, 2002

À medida em que faço mais posts, percebo duas tendências: aumenta a "necessidade" de editar o blog (vício potencial...) e muda o caráter inicialmente previsto para o blog. Resolvi que a minha noção de cultura será a mais ampla possível. Em gíria, dir-se-ia que ela abriu as pernas.
Após ler uma boa parte da edição atual da revista Caros Amigos, resolvi divulgá-la. É, isto mesmo. Farei propaganda.
A revista é uma das pouca publicações "grandes" brasileiras independentes da grande mídia. Os autores, praticamente em sua totalidade, são muito competentes. Não posso dizer isso com uma base técnica (jornalistas e publicitários de plantão me corrijam se eu estiver errado), mas no papel de leitor. Textos coerentes, bem justificados, bem escritos. Alguns dos meus jornalistas/escritores prediletos da atualidade: José Arbex Jr., César Benjamim, Luís Fernando Veríssimo (este, só eventualmente), entre muitos outros bons. A revista custa R$ 5,50 nas bancas, é mensal, representando um investimento perfeitamente possível para praticamente todos que estão lendo esse texto. Além disso, você pode assiná-la por dois anos pagando R$ 105,90 em três vezes (eu disse que faria propaganda). Para os que não conhecem, sugiro o site da revista onde uma boa parte dos textos publicados podem ser encontrados. Entre os textos desse mês que já li, destaco a reportagem de capa, com título "Juventude Indignada"; a entrevista de um sociólogo francês, Michel Maffesoli, falando sobre o Brasil como laboratório da pós modernidade (na concepção dele, a junção do arcaismo com a tecnologia); e o texto de César Benjamim, questionando a política que a esquerda anuncia como plano de governo e propondo algumas soluções.
Encerro com algumas frases citadas ao longo desta edição da revista e que julguei interessantes.

"Na Roma Antiga, só votavam os romanos. No capitalismo global moderno, só votam os americanos, os brasileiros não votam."
George Soros (Folha de S. Paulo, 08/06/2002).

"Estamos há vinte anos sem crescer. Neste país só se fala em mercado. Basta um especulador dizer qualquer coisa para ficarmos de joelhos. Não podemos abrir mão da nossa soberania. É preciso dar um basta nisso. Temos de defender nossos agricultores, trabalhadores, industriais e a classe média."
Nicolau Jeha, vice-presidente da FIESP (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) (Carta Maior)

"O momento de maior participação política que eu me lembre, nos anos 50, foi uma campanha em defesa da escola pública (...). Foi uma grande mobilização pelo ensino público gratuito obrigatório, que é a base da democracia - o que eu acredito até hoje."
Fernando Henrique Cardoso, em artigo ao Jornal da Tarde, falando de seus tempos de professor (citado como pérola na seção República da edição 64 da Caros amigos)

"Sentimento sem ação é a ruína da alma."
Patrick Reinsborough, diretor organizador da Rainforest Action Network, parafraseando Edward Abbey

Friday, July 19, 2002

Claramente a resposta adotada aqui à "questão cultural" mencionada no topo desta página será severamente influenciada pelo meu gosto pessoal. E acabo de decidir que, (1) para mim, Star Wars é cultura e que (2) não há problemas em colocar imagens pequenas na página. Talvez eu volte atrás no futuro, mas no momento me parece ótimo mencionar que existe um teste (encontrei em outro blog) de Jedi:

:: how jedi are you? ::

Thursday, July 18, 2002

Assisti há algumas horas o anime Mononoke Hime. Gostei muito, é um dos melhores que já vi. Acho fantástico como a história é criada e contada de forma tão diferente do "usual ocidental". Recomendo.
Abaixo, letra da versão em inglês do ending theme.

"In the moonlight I felt your heart
Quiver like a bowstring's pulse
In the moon's pure light, you looked at me
Nobody knows your heart

When the sun is gone I see you
Beautiful and haunting, but cold
Like the blade of a knife, so sharp and so sweet
Nobody knows your heart

All of your sorrow, grief and pain
Locked away in the forest of the night
Your secret heart belongs to the world
Of the things that sigh in the dark
Oh the things that cry in the dark"

Wednesday, July 17, 2002

"Art. 148. O exercício da virtude é um excelente remédio contra as paixões.

Se bem que essas emoções interiores* nos atinjam mais de perto e possuam, conseqüentemente, muito mais poder sobre nós do que as paixões que se encontram com elas, e das quais diferem, é certo que, uma vez que a alma tenha sempre do que se contentar em seu íntimo, todas as perturbações que provêm de outras partes não dispõem de poder algum para prejudicá-la; mas antes servem para aumentar a alegria, pelo fato de, vendo que não pode ser por eles ofendida, conhecer com isso sua própria perfeição. E, para que a nossa alma tenha por estar contente, necessita somente seguir estritamente a virtude. Pois, quem quer que tenha vivido de tal forma que sua consciência não possa censurá-lo de jamais haver deixado de fazer todas as coisas que reputou serem as melhores (que é o que denomino aqui virtude), recebe daí uma satisfação tão intensa para torná-lo feliz que os mais veementes esforços da paixão jamais têm poder suficiente para perturbar a tranqüilidade de sua alma."

* - As emoções a que o autor se refere são as estimuladas na alma pela própria alma. Os conceitos de "alma", "paixão" e "espíritos" utilizados por Descartes são por demais complexos para serem explicados em poucas palavras. Recomenda-se a leitura da referência bibliográfica abaixo aos interessados

Extraído de Descartes, René - "As Paixões da Alma", Segunda Parte
Estranho pensar no caráter exponencial dos fatos que determinam nossas existências. Quando eu vinha hoje caminhando para casa, pensava em como seria interessante manter um blog denominado Laurelin, a mais jovem das árvores de Valinor, que deu origem ao Sol. E fiz vários planos a respeito. Chegando aqui, descubro que alguém já utiliza o laurelin.blogspot.com. E, por incrível que pareça, Gondolin estava "vazia". Desta forma, meus planos anteriores foram por água abaixo mas já vejo um bom potencial no nome deste outro (por isso mencionei o caráter exponencial... uma simples mudança em uma variável (nome do blog) leva a várias mudanças em outras (conteúdo)). Inclusive, tudo começou quando eu decidi saber o que era o "hidden gate to save us from the shadow fall", na música Mirror Mirror do Blind Guardian. Acabei lendo "O Senhor dos Anéis" e "O Silmarillion", onde finalmente descobri o que era. E cá estou novamente, no início.

Nada mais justo do que citar os dois trechos de Tolkien referentes à criação de Gondolin.

"Já Turgon tinha lembranças da cidade instalada no alto de uma colina, Tirion, a bela, com sua torre e sua árvore; e não encontrava o que buscava. Mas voltou para Nevrast e se acomodou em Vinyamar, à beira-mar. E, no ano seguinte, o próprio Ulmo lhe apareceu e recomendou que voltasse a entrar sozinho no Vale do Sirion. Turgon partiu e, sob a orientação de Ulmo, descobriu o vale oculto de Tumladen, nas Montanhas Circundantes, no centro do qual havia uma colina de pedra. Dessa descoberta, ele não falou a ninguém por um tempo, mas retornou ainda uma vez a Nevrast, e ali começou em segredo a elaborar o projeto de uma cidade no estilo de Tirion sobre Túna, pela qual seu coração ansiava no exílio"
Extraído de Tolkien, J. R. R. - "O Silmarillion", Capítulo XIII (Da volta dos noldor)

"Já se relatou como, com a orientação de Ulmo, Turgon de Nevrast descobriu o vale oculto de Tumladen; e este (como mais tarde se soube) ficava a leste do curso superior do Sirion, num círculo de montanhas altas e escarpadas, aonde não chegava nenhum ser vivo à exceção das águias de Thorondor. Existia, porém, um caminho nas profundezas, por baixo das montanhas, escavado nas trevas do mundo, por águas que fluíam para se juntar à correnteza do Sirion. E esse caminho Turgon descobriu, e chegou assim à verde planície em meio às montanhas, e viu a colina-ilha de pedra dura e lisa que ficava ali; pois, o vale havia sido outrora um lago enorme. Turgon soube, então, que havia encontrado o local de seus desejos, e decidiu construir ali uma bela cidade, um monumento em memória de Tirion sobre Túna. Voltou porém para Nevrast e lá permaneceu sossegado, embora sempre pensando num modo de realizar seu projeto.
Ora, depois da Dagor Aglareb, a inquietação que Ulmo instilara em seu coração lhe voltou, e Turgon convocou muitos dos mais resistentes e habilidosos de seu povo, levou-os em segredo para o vale oculto, e ali começaram a construção da cidade que Turgon havia imaginado. Montaram também guarda em toda a sua volta, para que ninguém que viesse de fora pudesse deparar com seu trabalho, e o poder de Ulmo que corria nas águas do Sirion os protegia. Turgon, porém, ainda residia na maior parte do tempo em Nevrast, até que afinal a cidade ficou pronta, após cinqüenta e dois anos de faina em segredo. Diz-se que Turgon a denominou Ondolindë, na fala dos elfos de Valinor, a Rocha da Música da Água, pois havia nascentes na colina; mas no idioma sindarin o nome foi mudado, tornado-se Gondolin, a Rocha Oculta. Preparou-se então Turgon para partir de Nevrast e abandonar seus palácios em Vinyamar à beira-mar. E ali Ulmo mais uma vez veio até ele e lhe falou.
- Agora irás finalmente para Gondolin, Turgon; e manterei meu poder sobre o Vale do Sirion, e sobre todas as águas que existem ali, para que ninguém se dê conta de tua viagem. Ninguém tampouco encontrará a entrada secreta contra a tua vontade. De todos os reinos dos eldalië, Gondolin será o que resistirá por mais tempo a Melkor. Não tenhas, porém, amor em excesso pela obra de tuas mãos e invenções de teu coração. Lembra-te que a verdadeira esperança dos noldor está no oeste e vem do Mar.
E Ulmo avisou a Turgon que ele também estava sujeito à Condenação de Mandos, a qual Ulmo não tinha nenhum poder para eliminar.
- Assim, pode acontecer que a maldição dos noldor também te descubra antes do fim, e que a traição surja dentro de tuas muralhas. Então, elas correrão perigo de incêndio. No entanto, se esse perigo chegar muito perto, da própria Nevrast virá alguém te avisar; e dele, superando a destruição e o fogo, nascerá a esperança para elfos e homens."
Extraído de Tolkien, J. R. R. - "O Silmarillion", Capítulo XV (Dos noldor em Beleriand)