Friday, September 27, 2002

Que adequado este poema que segue. José Serra com menos da metade dos votos de Lula, empatado tecnicamente com Garotinho:

"José

E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, Você?
Você que é sem nome,
que zomba dos outros,
Você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?

E agora, José?
sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio, - e agora?

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse,
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse....
Mas você não morre,
você é duro, José!

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja do galope,
você marcha, José!
José, para onde?"

Carlos Drummond de Andrade (1902-1987)
Em uma das manhãs desta semana tive uma revelação. Lendo um texto do autor do Sinfest, li um trecho do tipo "$100 million dollars to the Google power". E percebi que o nome do santo oráculo (e que, vejam, descobri agora, comemora seu quarto aniversário hoje - como eram mesmo as nossas vidas antes dele?) é baseado no googol (gugol em português de portugal). Googol é um número "inventado" pelo matemático americano Edward Krasner, batizado por seu sobrinho, e que representa 10100 (o 1 seguido de 100 zeros). Especulo que os criadores do Google (nerds) tenham batizado o mecanismo assim como uma referência ao grande número de páginas indexadas ou ao crescente tamanho da Internet. E, pesquisando (como?) mais um pouco, descobri que a sede deles é chamada de Googleplex. Googolplex é 10 elevado a um googol (o 1 seguido de 1 googol de zeros).
Só para dar uma idéia, Carl Sagan dizia que nenhuma quantidade no universo soma um googol. Estima-se que o número de prótons e elétrons necessários para preencher todo o universo seja da ordem de 10110.
Sua vida mudou com esta informação, não é? Não? Paciência.

Saturday, September 21, 2002

A citação, que era a motivação do post anterior, é:

"Voltei-me, e vi debaixo do sol que não é dos ligeiros a carreira, nem dos fortes a batalha, nem tampouco dos sábios o pão, nem tampouco dos prudentes as riquezas, nem tampouco dos entendidos o favor, mas que o tempo e a oportunidade ocorrem a todos."
Eclesiastes, 9:11
O Velho Testamento é cheio de coisas interessantes. Depois de ver uma citação de Eclesiastes em um livro sobre Algoritmos Genéticos que comecei a estudar, resolvi dar uma lida. Segue o Eclesiastes 1. Perceba a questão filosófica da aflição do espírito e da dor associada ao conhecimento. Para quem se interessar, encontrei uma versão online da Bíblia no UOL.

"PALAVRAS do pregador, filho de Davi, rei em Jerusalém. 1:1
Vaidade de vaidades, diz o pregador, vaidade de vaidades! Tudo é vaidade. 1:2
Que proveito tem o homem, de todo o seu trabalho, que faz debaixo do sol? 1:3
Uma geração vai, e outra geração vem; mas a terra para sempre permanece. 1:4
Nasce o sol, e o sol se põe, e apressa-se e volta ao seu lugar de onde nasceu. 1:5
O vento vai para o sul, e faz o seu giro para o norte; continuamente vai girando o vento, e volta fazendo os seus circuitos. 1:6
Todos os rios vão para o mar, e contudo o mar não se enche; ao lugar para onde os rios vão, para ali tornam eles a correr. 1:7
Todas as coisas são trabalhosas; o homem não o pode exprimir; os olhos não se fartam de ver, nem os ouvidos se enchem de ouvir. 1:8
O que foi, isso é o que há de ser; e o que se fez, isso se fará; de modo que nada há de novo debaixo do sol. 1:9
Há alguma coisa de que se possa dizer: Vê, isto é novo? Já foi nos séculos passados, que foram antes de nós. 1:10
Já não há lembrança das coisas que precederam, e das coisas que hão de ser também delas não haverá lembrança, entre os que hão de vir depois. 1:11
Eu, o pregador, fui rei sobre Israel em Jerusalém. 1:12
E apliquei o meu coração a esquadrinhar, e a informar-me com sabedoria de tudo quanto sucede debaixo do céu; esta enfadonha ocupação deu Deus aos filhos dos homens, para nela os exercitar. 1:13
Atentei para todas as obras que se fazem debaixo do sol, e eis que tudo era vaidade e aflição de espírito. 1:14
Aquilo que é torto não se pode endireitar; aquilo que falta não se pode calcular. 1:15
Falei eu com o meu coração, dizendo: Eis que eu me engrandeci, e sobrepujei em sabedoria a todos os que houve antes de mim em Jerusalém; e o meu coração contemplou abundantemente a sabedoria e o conhecimento. 1:16
E apliquei o meu coração a conhecer a sabedoria e a conhecer os desvarios e as loucuras, e vim a saber que também isto era aflição de espírito. 1:17
Porque na muita sabedoria há muito enfado; e o que aumenta em conhecimento, aumenta em dor. 1:18"

Friday, September 20, 2002

Incrível como algumas coisas continuam atuais.

Perfeição
Letra: Renato Russo
Música: Dado Villa-Lobos/Renato Russo/Marcelo Bonfá

Vamos celebrar a estupidez humana
A estupidez de todas as nações
O meu país e sua corja de assassinos
Covardes, estupradores e ladroes

Vamos celebrar a estupidez do povo
Nossa polícia e televisão
Vamos celebrar o nosso governo
E nosso estado que não é nação

Celebrar a juventude sem escolas
As crianças mortas
Celebrar nossa desunião

Vamos celebrar Eros e Thanatus
Perséphone e Hades
Vamos celebrar nossa tristeza
Vamos celebrar nossa vaidade

Vamos comemorar como idiotas
A cada fevereiro e feriado
Todos os mortos nas estradas
E os mortos por falta de hospitais

Vamos celebrar nossa justiça
A ganância e a difamação
Vamos celebrar os preconceitos
E o voto dos analfabetos

Comemorar a água podre
Todos os impostos, queimadas, mentiras e sequestros
Nosso castelo de cartas marcadas
O trabalho escravo e nosso pequeno universo

Toda a hipocrisia e toda a afetação
Todo o roubo e toda a indiferença
Vamos celebrar epidemias
É a festa da torcida campeã

Vamos celebrar a fome
Não ter a quem ouvir
Não se ter a quem amar

Vamos alimentar o que é maldade
Vamos machucar um coração
Vamos celebrar nossa bandeira
Nosso passado de absurdos gloriosos

Tudo o que é gratuito e feio
Tudo o que é normal

Vamos cantar juntos o hino nacional
(A lágrima é verdadeira)
Vamos celebrar nossa saudade
E comemorar a nossa solidão

Vamos festejar a inveja
A intolerância e a incompreensão
Vamos festejar a violência
E esquecer a nossa gente
Que trabalhou honestamente a vida inteira
E agora não tem mais direito a nada

Vamos celebrar a aberração
De toda nossa falta de bom senso

Nosso descaso por educação

Vamos celebrar o horror de tudo isso
Com festa, velório e caixão
Está tudo morto e enterrado agora
Já aqui também podemos celebrar
A estupidez de quem cantou essa canção

Venha, meu coração está com pressa
Quando a esperança está dispersa
Só a verdade me liberta
Chega de maldade e ilusão

Venha, o amor tem sempre a porta aberta
E vem chegando a primavera
Nosso futuro recomeça
Venha, que o que vem é perfeição
Cidade de Deus 2

Fantástico. Documentário, história, disfarçado de filme moderno, com efeitos especiais e boas interpretações. "Documentário" me faz lembrar de outro que reassisti recentemente: Ilha das Flores. E este começa assim: "Existe um lugar chamado Ilha das Flores. Deus não existe." Deus, mencionado como justificativa dos milagres da Cidade de Deus. Milagres...

Durante o filme eu ri alto da violência e do absurdo. O riso foi minha máscara, minha parcela da hipocrisia que visto na presença de outras pessoas (vide Gisele). Se eu estivesse só, talvez chorasse ao invés de rir. O refúgio da indiferença é covardia, chorar é para quem tem coragem. Conformam-se pessoas desumanizadas, individualistas, esquecidas dos seus semelhantes. Não apenas semelhantes, iguais. Travestidos com boa educação e cumprimento das leis, ignoramos milhões de irmãos. Dizemos que não adianta lutar, dizemos que bandido tem mesmo que morrer, reclamamos de futilidades, vivemos por elas. Muito mais importante são os livros, as músicas, a satisfação pessoal. O outro lado está lá porque as coisas são assim, o mundo é mau e injusto, que pena pra eles. Rimos, e só não há tanta maldade neste riso porque somos ignorantes. Vivemos alheios ao "outro lado", ignoramos eles até que apareçam em massacres na TV ou nos assaltem. E aí reclamamos, e voltamos ao nosso pequeno mundo egoísta e sujo.

Chove lá fora e estou quase deprimido, decepcionado comigo e com a humanidade, o fracasso que somos. Vá lá e veja também o outro lado. Perceba como é o país, perceba ao final a foto que predomina. E pare trinta minutos para pensar o que você quer e o que você deve fazer quanto a isto. Se Deus existe, não importa muito. Existem outros seres humanos, iguais a você. Comece não votando em José Serra. O meio justifica alguns bandidos, não todos.

Tuesday, September 17, 2002

Acabei de assistir a Cidade de Deus, um filme excelente.

Seu realismo cru retrata muito bem a minha imagem de Brasil. Não estou dizendo que no país só existe miséria e violência, mas acho que o cenário da favela no Rio de Janeiro serviu para caracterizar muito bem o nosso povo. Nunca morei em favela e mal conheço estado do Rio, mas quase tudo se encaixou com o que compreendo como o jeito brasileiro de ser. A miséria humana e a nobreza de caráter podem assumir vários aspectos, mas no Brasil são recheadas de características bem peculiares.

Acho que as situações típicas pelas quais passa um brasileiro, da infância à vida adulta, permitem (extrapolando um pouco) conceber a mentalidade dos personagens nas situações de miséria retratadas, por mais absurdas que sejam. Gostaria de saber quais são as impressões que esse filme causa a estrangeiros.

É isso... Recomendo fortemente.

Sunday, September 15, 2002

Domingo a noite me deixa quase triste, então resolvo ouvir Cranberries. Uma das minhas músicas preferidas. (Assim como a Raquel, tenho uma certa predileção por músicas que falam do absurdo das guerras)

"War child
Cranberries

Who will save the war child baby?
Who controls the key?
The web we weave is thick and sordid,
Fine by me.

At times of war we're all the losers,
There's no victory.
We shoot to kill and kill your lover,
Fine by me.

War child, victim of political pride.
Plant the seed, territorial greed.
Mind the war child,
We should mind the war child.

I spent last winter in New York,
And came upon a man.
He was sleeping on the streets and homeless,
He said, "I fought in Vietnam."

Beneath his shirt he wore the mark,
He bore the mark with pride.
A two inch deep incision carved,
Into his side.

War child, victim of political pride.
Plant the seed, territorial greed.
Mind the war child,
We should mind the war child.

Who's the loser now? Who's the loser now?
We're all the losers now. We're all the losers now.

War child. War child."

Monday, September 09, 2002

Eu também vou comentar o mesmo assunto dos últimos posts...

Também acho que o ataque não foi à liberdade... O que tornou o fato um absurdo, a meu ver, foi o fato de ter resultado na morte de milhares de pessoas.

Ataques terroristas sempre querem passar alguma mensagem. Atacar um centro financeiro não me parece um insulto à liberdade. Atacar a casa branca também não, mesmo que os Estados Unidos se auto-intitulem o país da liberdade, da democracia, etc...

A estátua da liberdade estava ali do lado e, no entanto, o que foi atacado foram as torres gêmeas... Sinceramente, acho que se quisessem chocar o mundo com um "nós somos contra a liberdade", este seria um alvo muito mais razoável.

Quanto à ênfase que a mídia deu ao ocorrido, também concordo com o Japa: ela está interessada na notícia, e não nas vidas. Isso, no entanto, não me espanta... Por quê?

Por que isso é recorrente em todas as esferas da sociedade. O problema não é com a mídia, e sim com o homem. O homem individualista leva o individualismo ao trabalho. Quando está no controle de uma empresa, não está preocupado em maximizar a qualidade de vida do funcionário, mas em maximizar os lucros da empresa, o que é de certa forma coerente com o "eu quero me dar bem". Para os veículos de notícias, maximizar o lucro é passar a informação que vai render mais dinheiro. O mesmo vale para chefes de nação, que quando precisam ferrar outros países -- e têm poder para tanto -- o fazem numa boa, num egoísmo coletivo (queremos o melhor para o nosso país, o resto que se vire), ou quando ferram o próprio país com corrupção, visando riquezas pessoais. Pode-se estender esse raciocínio para os bancos e sua agiotagem, para partidos políticos que não aceitam propostas de outros partidos, para pessoas que sonegam impostos, para os que sujam as ruas da cidade, e por aí vai...

Na minha opinião, isso não é maldade inata... É a maneira como pode agir alguém que aprendeu a se considerar o próprio Deus, a procurar o bem-estar próprio acima de qualquer coisa.

Os terroristas, por sua vez, não agem de maneira individualista, mas de maneira fundamentalista. Não acho justo considerar que o islamismo em si prega a violência, já que existem tantos muçulmanos que até lutam pela paz no mundo. Acho que o problema está na concepção que alguns deles têm da religião, e não na religião em si. Problema, aliás, que o cristianismo já passou.
Comentando o último post e desenvolvendo:
Concordo com tudo exceto a menção de ter sido um "ataque à liberdade". É sabido que o neoliberalismo (ou "capitalismo selvagem", como prefiro) tão defendido pelos americanos restringe muitas liberdades (olhe a miséria no mundo). Mais grave que isto são as restrições impostas pelo estado norte-americano, o poderoso tio Sam com suas intervenções militares impunes a meio século. Também sou contra as divisões territoriais, mas uma vez que elas existam e se manifestem (os estados nacionais só existem por causa delas), não podem ser ignoradas. O ataque foi absurdo, sim, mas muito antes de ser um ataque às liberdades individuais foi um ataque a uma potência opressora e que (ela, a potência, não o povo) mereceu este ataque.
Não me impressiono com as mortes de civis, apesar de lamentá-las. Civis morrem todos os dias de formas muito mais cruéis. E a grandiosa democracia (a grande farsa da era, a grande mentira, odiosa forma de governo) vê estes problemas, sabe que contribui para eles e nada faz; defende os lucros acima de tudo. O Deus desta doutrina é o dinheiro.
Acho absurdo todo estardalhaço da mídia em torno do fato. Se as vidas são tão importantes, mostrassem todos os dias as nossas crianças morrendo de fome, os velhos abandonados nos hospitais, as tribos africanas vítimas da AIDS. Não é a vida que é importante, é a notícia. Dinheiro acima de tudo, ética só existe nos acordos comerciais entre cavalheiros de terno.
Tudo bem que se reclame dos "terroristas" (por sinal, todas as provas apareceram de forma muito conveniente e apontaram inimigos mais convenientes ainda), eles agiram contra a humanidade. Mas não esqueçamos que os maiores assassinos estão impunes e continuam nos observando do alto de seus tronos.

Sunday, September 08, 2002

And then there was silence...



No dia 11 de Setembro de 2001, dois aviões chocaram-se contra as torres gêmeas do World Trade Center. No dia, considerei um ataque contra os Estados Unidos. Hoje considero um ataque contra a humanidade. Pois após o fato, percebi o quanto é estúpido dividir as pessoas pelo local onde nascem. Odiar os "americanos" porque nasceram do lado da linha imaginária que é governado por pessoas que acreditam que a melhor maneira de ajudar "seu" povo é explorar o outro lado da linha. E considerar que um ataque do lado de lá desta linha não tem nada a ver comigo.



Depois, foi verificado que o ataque não se dirigiu às torres monumentais, que eram apenas concreto e aço, nem às pessoas, mas a um ideal. Foi um ataque à liberdade, à mesma liberdade que garantia aos muçulmanos residentes nos Estados Unidos o direito de exercer sua religião. Pois foi deixado claro, que além do cunho político, havia no massacre um cunho ideológico, contra a defesa das liberdades individuais. E isto eu considero não só como um ataque à humanidade, mas um ataque pessoal contra mim.



E um ano depois, com medo de novos ataques, muitas pessoas do lado errado da linha mais uma vez terão medo. Outras sairão às ruas, orgulhosas, com a bandeira da sua "pátria", ratificando a divisão da humanidade entre "americanos" e "não-americanos", como se algum dos lados fosse melhor, ou feito de algo diferente do outro. E seu governo, legitimado por este "patriotismo", continuará tomando atitudes que alimentarão o ódio contra si mesmo, seu "país" e "seu" povo.



Eu não vou sair com uma bandeira americana, brasileira, ou de nenhum outro "Estado". Nem com uma bandeira branca, pois estamos em guerra, em guerra contra nós mesmos (como todas as guerras). Se uma bandeira deve ser erguida pela humanidade, é uma bandeira amarela. Para indicar que nosso grande "navio" está infectado com a Peste, que desta vez é causada não por outra espécie, mas por nós mesmos. E a doença chama-se estupidez.






Citação do dia :


No man is an island, entire of itself; every man is a piece of the continent, a part of the main. If a clod be washed away by the sea, Europe is the less, as well as if a promontory were, as well as if a manor of thy friend's or of thine own were: any man's death diminishes me, because I am involved in mankind, and therefore never send to know for whom the bell tolls; it tolls for thee.



Nenhum homem é uma ilha, inteira por si só; todo homem é um pedaço do continente, uma parte do todo. Se um pedaço de terra é levado pelo mar, a Europa é diminuída, assim como um promontório, assim como o solar de seu amigo ou o seu mesmo: A morte de qualquer homem me diminui, porque sou parte da humanidade. Assim, nunca pergunte por quem o sino toca; ele toca por você.



(A pontuação foi modificada na tradução, senão o texto ficaria muito confuso)

John Donne - For Whom the Bell Tolls


Saturday, September 07, 2002

Iniciei na semana passada a leitura dos "Contos Inacabados" do Tolkien. É um pouco estranho como esse assunto tem sido recorrente para mim. Provavelmente tem a ver com o fato de eu gostar muito da história e, portanto, acabar tendo minha atenção voltada para tal. O fato é que de novo o assunto é Gondolin: o primeiro conto, "De Tuor e de sua chegada a Gondolin", descreve a jornada do mensageiro de Ulmo (senhor das Águas e o meu Vala predileto) e sua entrada na cidade secreta. Apesar de incompleto, parando justamente quando ele ultrapassa a última das sete portas que guardam a cidade, o conto é muito bom. E eu ouvia o "Nightfall in Middle-Earth" do Blind Guardian enquanto lia, e exatamente quando terminei o conto começou a tocar "Mirror Mirror". Provavelmente para quem não leu "O Silmarillion" e não conhece esse álbum, essa informação não diz grande coisa, mas os fãs da história devem entender. Essas voltas todas em torno do assunto me fazem lembrar o título da " fonte" de "O Senhor dos Anéis", "There and back again" (o nome do livro vermelho escrito pelo Bilbo). E caí de novo no mesmo assunto. Impressionante, não?

Sunday, September 01, 2002

Freqüentemente vejo pessoas reclamando do frio e dos dias nublados. Ora, são estes justamente os meus preferidos. Hoje esfriou em Campinas, após a chuva de ontem. E o frio é até agradável, não confortável, de fato, mas estimulante. E este frio me remete a muitos dias vividos no sul, e apesar de trazer alguma tristeza e melancolia, me parece muito melhor para pensar e refletir do que os dias mornos ou quentes do verão. Existe uma grande beleza nas folhas secas que caem e na solidão das grandes nuvens velozes.

E, além do mais, os dias frios são muito melhores para ler. Falando em ler (e dando alguma utilidade ao comentário), finalizei "O Processo" de Franz Kafka na semana passada. Minha opinião a respeito do Kafka mudou com a leitura deste livro. Talvez "A Metamorfose" não tenha me impressionado muito pelo fato de eu já conhecer a história e a "moral" da obra. Como "O Processo" era desconhecido e é bem mais longo, pude ter um contato maior com a tão citada "atmosfera kafkiana". E predominam a alienação e o absurdo. Durante a leitura dos primeiros capítulos, tive uma sensação semelhante à provocada por "A Liberdade é Azul" (filme ótimo, por sinal - quando terminou fiquei olhando pensativo para a tela vazia da televisão por um bom tempo). O texto flui facilmente, e as descrições são surpreendentemente precisas ao falar dos absurdos todos. O personagem principal é a personificação da alienação e, embora tenha seus rompantes de libertação, é muito indiferente ao mundo. Aliás, o mundo todo parece sujo e mau, combinando perfeitamente com a acusação desconhecida. Muito bom.
Uma das minhas músicas preferidas do Angra.

"Reaching Horizons

Rainy clouds covered up the sunny sky
Now I know I'll sleep alone tonight
Tears and prayers will be taken by the rain
Fear and loneliness in my dreams
And I know I'll never be the same
Living this tragedy insane
All I wanna be is to be free with you, with me
I don't blame the fate but it's still hard to face the truth
It was all just like paradise
Just like we wanted it to be
Far beyond the reason rest our lives
Eternity denies the guilty of reality senselessness
Fly high reaching skies
Two eagles flying to be free
Moments of madness will be left behind
The same horizon but in different lands"

-Angra