"Art. 148. O exercício da virtude é um excelente remédio contra as paixões.
Se bem que essas emoções interiores* nos atinjam mais de perto e possuam, conseqüentemente, muito mais poder sobre nós do que as paixões que se encontram com elas, e das quais diferem, é certo que, uma vez que a alma tenha sempre do que se contentar em seu íntimo, todas as perturbações que provêm de outras partes não dispõem de poder algum para prejudicá-la; mas antes servem para aumentar a alegria, pelo fato de, vendo que não pode ser por eles ofendida, conhecer com isso sua própria perfeição. E, para que a nossa alma tenha por estar contente, necessita somente seguir estritamente a virtude. Pois, quem quer que tenha vivido de tal forma que sua consciência não possa censurá-lo de jamais haver deixado de fazer todas as coisas que reputou serem as melhores (que é o que denomino aqui virtude), recebe daí uma satisfação tão intensa para torná-lo feliz que os mais veementes esforços da paixão jamais têm poder suficiente para perturbar a tranqüilidade de sua alma."
* - As emoções a que o autor se refere são as estimuladas na alma pela própria alma. Os conceitos de "alma", "paixão" e "espíritos" utilizados por Descartes são por demais complexos para serem explicados em poucas palavras. Recomenda-se a leitura da referência bibliográfica abaixo aos interessados
Extraído de Descartes, René - "As Paixões da Alma", Segunda Parte
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