Friday, September 20, 2002

Cidade de Deus 2

Fantástico. Documentário, história, disfarçado de filme moderno, com efeitos especiais e boas interpretações. "Documentário" me faz lembrar de outro que reassisti recentemente: Ilha das Flores. E este começa assim: "Existe um lugar chamado Ilha das Flores. Deus não existe." Deus, mencionado como justificativa dos milagres da Cidade de Deus. Milagres...

Durante o filme eu ri alto da violência e do absurdo. O riso foi minha máscara, minha parcela da hipocrisia que visto na presença de outras pessoas (vide Gisele). Se eu estivesse só, talvez chorasse ao invés de rir. O refúgio da indiferença é covardia, chorar é para quem tem coragem. Conformam-se pessoas desumanizadas, individualistas, esquecidas dos seus semelhantes. Não apenas semelhantes, iguais. Travestidos com boa educação e cumprimento das leis, ignoramos milhões de irmãos. Dizemos que não adianta lutar, dizemos que bandido tem mesmo que morrer, reclamamos de futilidades, vivemos por elas. Muito mais importante são os livros, as músicas, a satisfação pessoal. O outro lado está lá porque as coisas são assim, o mundo é mau e injusto, que pena pra eles. Rimos, e só não há tanta maldade neste riso porque somos ignorantes. Vivemos alheios ao "outro lado", ignoramos eles até que apareçam em massacres na TV ou nos assaltem. E aí reclamamos, e voltamos ao nosso pequeno mundo egoísta e sujo.

Chove lá fora e estou quase deprimido, decepcionado comigo e com a humanidade, o fracasso que somos. Vá lá e veja também o outro lado. Perceba como é o país, perceba ao final a foto que predomina. E pare trinta minutos para pensar o que você quer e o que você deve fazer quanto a isto. Se Deus existe, não importa muito. Existem outros seres humanos, iguais a você. Comece não votando em José Serra. O meio justifica alguns bandidos, não todos.

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