Wednesday, July 31, 2002

Um protesto cultural hoje. Lembrando de um comentário da Sam e de uma notícia que li recentemente, resolvi comentar o assunto.
Se o leitor entrar na página da Academia Brasileira de Letras, encontrará o seguinte texto:

"A Academia, trabalhando pelo conhecimento [...], buscará ser, com tempo, a guarda da nossa língua. Caber-lhe-á então defendê-la daquilo que não venha das fontes legítimas, - o povo e os escritores, - não confundindo a moda, que perece, com o moderno, que vivifica. Guardar não é impor; nenhum de vós tem para si que a Academia decrete fórmulas. E depois, para guardar uma língua, é preciso que ela se guarde também a si mesma, e o melhor dos processos é ainda a composição e a conservação de obras clássicas."

Machado de Assis,
Academia Brasileira de Letras
7 de dezembro de 1897

Pergunto-me eu, pobre mortal, distante dos grandes criadores da nossa língua materna: que terá acontecido para acolherem um escritor medíocre como Paulo Coelho? Os que já leram algum livro dele hão de concordar sobre a mediocridade. Histórias "de novela", com um tom místico (que por sinal, ele aparentemente adora assumir), sem estilo. Onde fica a guarda da língua, a proteção contra a moda? Se o Pitanguy já era controverso (e este eu nem discuto, já que nunca li um livro dele), que dizer deste indivíduo? E ainda tem o fato de não aceitarem o Vinícius...

Sunday, July 28, 2002

Resolvi falar de música... Mais precisamente, de Chico Buarque, talvez o maior compositor da MPB, certamente o maior letrista. Decidi não colocar uma música de crítica social ou à ditadura, porque às vezes as pessoas pensam que isso é a única coisa que ele sabe fazer de bom (não que isso não seja legal).

Então eis aqui um samba simples, mas muito legal, com uma letra bem trabalhada. É do começo da carreira dele. Pena que não dá pra colocar a música, porque a melodia é muito boa.

Januária
(Chico Buarque/1967)

Toda gente homenageia
Januária na janela
Até o mar faz maré cheia
Pra chegar mais perto dela
O pessoal desce na areia
E batuca por aquela
Que, malvada, se penteia
E não escuta quem apela

Quem madruga sempre encontra
Januária na janela
Mesmo o sol quando desponta
Logo aponta os lados dela
Ela faz que não dá conta
De sua graça tão singela
O pessoal se desaponta
Vai pro mar levanta vela

Friday, July 26, 2002

Obrigado.

Como é bom quando alguém diz que o final de um livro ou filme é surpreendente. Com o Sexto Sentido, não me contaram o fim, mas de tanto dizerem que era surpreendente eu concluí o mesmo [eu quis dizer descobri o final. só após enviar o texto percebi que estava extremamente ambíguo]. . E até hoje não assisti o filme. Estou certo que no meio do Crime e Castigo, quando criar coragem para lê-lo, eu já saberei o final só pelo fato de ser surpreendente. Gostaria de deixar claro que não estou de mau humor, e estou apenas sendo sarcástico.

Quanto à Alice, um ótimo livro. Bastante irônico, e com um enredo muito interessante. Segue meu trecho preferido, que se adequa à maioria dos meios sociais que freqüento :

'But I don't want to go among mad people,' Alice remarked.
'Oh, you can't help that,' said the Cat: 'we're all mad here. I'm mad. You're mad.'
'How do you know I'm mad?' said Alice.
'You must be,' said the Cat, 'or you wouldn't have come here.'

(Lewis Carroll, Alice in Wonderland)
Terminei de ler, hoje pela manhã, Crime e Castigo, do Dostoievski. Muito bom. O conflito entre bem e mal, temática do livro, aparece não apenas na personagem principal, Raskolnikov, como também em quase todas as outras personagens. O final me surpreendeu, e gostei da surpresa. Recomendo.
Após a leitura, senti vontade de escrever. Já tinha comentado esse tema vagamente em uma conversa com a Dani. Além disso, recebi um elogio recentemente da Sam e li ontem um conto interessante do Leonardo. Acho que estes três fatores me estimularam bastante.
Este é o meu primeiro conto. Não escrevo um texto narrativo desde o primeiro grau. Me habituei às dissertações e nunca mais treinei nem estudei narração. Espero, desta forma, justificar eventuais falhas no texto. Todo tipo de comentário é bem-vindo. Peço que me digam sinceramente o que acharam.

Criei uma cópia do conto, já que os servidores do Instituto de Computação não andam muito estáveis.

Thursday, July 25, 2002

Devido a um impulso repentino motivado por uma leitura de um texto da Raquel, fui agora há pouco até a bilbioteca do Instituto de Estudos da Linguagem aqui da Unicamp e peguei Alice's adventures in Wonderland and Through the looking-glass, o clássico de Lewis Carroll. Há muito eu queria lê-lo e agora estou decidido. Comentarei minhas impressões quando terminar. Abaixo, o poema que inicia o livro.

All in the golden afternoon
Full leisurely we glide;
For both our oars, with little skill,
By little arms are plied,
White little hands make vain pretence
Our wanderings to guide.

Ah, cruel Three! In such a hour,
Beneath such dreamy weather,
To beg a tale of breath too weak
To stir the tiniest feather!
Yet what can one poor voice avail
Against three tongues together?

Imperious Prima flashes forth
Her edict 'to begin it':
In gentler tones Secunda hopes
'There will be nonsense in it!'
While Tertia interrupts the tale
Not more than once a minute.

Anon, to sudden silence won,
In fancy they pursue
The dream-child moving through a land
Of wonders wild and new,
In friendly chat with bird or beast -
And half believe it true.

And ever, as the story drained
The wells of fancy dry,
And faintly strove that weary one
To put the subject by,
'The rest next time -' 'It is next time!'
The happy voices cry.

Thus grew the tale of Wonderland:
Thus slowly, one by one,
Its quaint events were hammered out -
And now the tale is done,
And home we steer, a merry crew,
Beneath the setting sun.

Alice! A childish story take,
And, with a gentle hand,
Lay it where Childhood's dream are twined
In Memory's mystic band,
Like pilgrim's wither'd wreath of flowers
Pluck'd in a far-off land.
"Alguem certamente havia caluniado Josef K., pois uma manha ele foi detido sem ter feito mal algum."

Com essas palavras Franz Kafka inicia o romance O Processo, uma das obras mais importantes da literatura universal, ainda que inacabada.

O livro conta a historia de um homem que, apos ser processado sem saber por que motivo ou por quem, tem sua vida totalmente modificada. Com uma atmosfera genuinamente kafkiana e repleto de ironia, o romance retrata a alienacao e a burocracia que circundam os tribunais, alem da angustia do acusado.

Tuesday, July 23, 2002

E um do Vinícius, que acabei de conhecer. Curtinho e divertido.

POÉTICA

Outros que contem
Passo por passo:
Eu morro ontem
Nasço amanhã
Ando onde há espaço -
Meu tempo é quando.

Vinicius de Moraes, 1913-1980
Uma contribuição de fato cultural, hoje. O meu poema preferido atualmente, praticamente um mote. Decorei ele.

O RIO

Ser como o rio que deflui
Silencioso dentro da noite.
Não temer as trevas da noite.
Se há estrelas nos céus, refleti-las.
E se os céus se pejam de nuvens,
Como o rio as nuvens são água,
Refleti-las também sem mágoa
Nas profundidades tranqüilas.

Manuel Bandeira, 1886-1968

Sunday, July 21, 2002

Na minha opinião quadrinhos (tanto comics quanto mangá) são cultura, ou pelo menos podem ser. :)
Pra quem curte mangá eu tenho quatro sugestões:

- Naruto
- Hunter x Hunter
- Samurai X (Rurouni Kenshin)
- One Piece

(clique no link pra ir pro site onde você pode baixar os capítulos do mangá, ou ver online, no caso do One Piece)

O primeiro mangá, o mais legal deles, conta a história de Naruto, um garoto de doze anos. Quando ele era recém-nascido, um demônio-raposa chamado Nine-Tails invadiu sua vila e todos os ninja de lá tentaram destruir o monstro. A única forma que encontraram para salvar a vila foi aprisionar seu espírito dentro do bebê (que era órfão, por sinal). Com isso, todos os adultos da vila passam a odiar o menino, e também as crianças vão adquirindo esse ódio por Naruto. Assim, ele cresce em meio a total isolamento social. No presente ele quer se tornar o maior ninja de sua vila, para ser reconhecido por todos. O problema é que ele é extremamente relaxado e tem sérios problemas de auto-afirmação, aprontando de tudo pra chamar a atenção. Depois são introduzidos na história outros personagens interessantes e carismáticos. Os pontos fortes são a introspecção psicológica, a comédia, o drama e os combates, que são decididos em geral muito mais pela astúcia do que pelo poder, ou pelo menos são cheios de surpresas, com as técnicas ninja, que não têm nada de habilidade física, são praticamente magia

Bom, já escrevi demais, acho que não vai dar pra fazer sinapses dos outros mangás. De qualquer forma fica a indicação...
Notas sobre os posts anteriores.
- Os dois textos são de autoria dos três responsáveis por esta página (veja acima).
- Perceba, em II, o início e o final do texto.
- Se você não entendeu, não pergunte. Nós também não.
II


Indefinidamente continuaria equacionando, tão absoluto quanto a convergência geométrica dos inefáveis burgueses africanos. Inconseqüentemente desmistificaria toda e qualquer abundância relativística, afinal, que gira, gira. Ou seríamos todos transpostos e intercalados à aleatoriedade transcendente dos fardos alevinos das cimitarras. A nulidade do xilema e do floema provocava ira, adrenalina: desferia o último golpe e derrubava árabes antigravitacionais de suas órbitas elípticas. Árabes estes, neste fato lancinante, oriundos de arcaicas profecias, que partiam-se e retomavam sua forma cósmica. Astros retumbantes e planetas heterogêneos sorriram, e todos se regozijaram. Anunciava que o fim estava próspero a recursividade, iniciando um novo ciclo que indefinidamente continuaria...
Resolvi publicar dois fantásticos textos que escrevi em conjunto com o André e o Renato, ano passado. Digo textos porque não é possível classificá-los de forma mais específica. A técnica de produção é simples: vários autores e nenhuma coerência, exceto a gramatical. O resultado, pelo menos do nosso ponto de vista, é muito engraçado. Talvez para o resto do mundo seja uma droga. É bem provável, aliás. Mas não podíamos deixar de mostrar nossa "elaboradíssima" produção artística.
Abaixo, o primeiro, escrito na Biblioteca Central da Unicamp em um dos fastidiosos períodos reservados a relatórios (de laboratório de física, provavelmente).

"O tom berrante do extintor de incêndio e a luminosidade convergente defenestravam inconseqüentemente o status quo da política de colocação de silogismos.

Diversificavam inconstitucionalmente a eloqüência banal dos menires macedônios, evidenciando a presença de etanol em meu sangue. Dialética. A doce despedida inebriante borbulhava num tom cáustico, convidando avidamente alguém a mais um gole. Eu. Nós todos, refloridos de holocaustos, aguardávamos o fim. Interlúdio. Prólogo.

Livres do tempo após (após?) a explosão do extintor. Mortos. Tão mortos quanto o vermelho vivo (sangue?) do algoz cilíndrico."

Também fui convidado pra editar o blog e minhas opiniões também não refletem a dos outros colaboradores (embora pelo menos as minhas próprias eu acredito que reflitam, por menos paradoxal que possa parecer), até porque eu tenho um pouco de bom senso (mwahahahahah).

Também fiz o teste de Jedi, mas não vou colocar o resultado aqui.

Bom, ainda não sei direito que tipo de coisas colocarei, então não vou colocar nada por enquanto.
Bom, fui convidado pra editar este blog. Como às vezes tenho vontade de escrever algo, mas desanimei logo no começo com meu próprio (falecido) blog, resolvi aceitar. Para o post inicial, vamos a alguns esclarecimentos...

O fato de alguém estar lendo esta página significa que esta pessoa não tem nada pra fazer, e não está vendo televisão, o que demonstra alguma afinidade com o ponto de vista cultural desta página. Ou talvez a TV esteja ligada de fundo, e o leitor esteja apenas ouvindo as propagandas subliminares da mesma. X-Cola é bom pra você.

Eu uso freqüentemente estrangeirismos, na maioria anglicismos. Estou acostumado com eles, leio muitos documentos em inglês (que, queiram os puristas ou não, é a lingua franca atual), e às vezes não lembro (ou não existem) equivalentes em português.

Nem sempre as minhas opiniões refletem a opinião dos outros colaboradores deste blog, e algumas vezes, não refletem nem mesmo minha própria opinião. Sim, há um paradoxo implícito. Eu não preciso ser coerente.

Também vou colocar o resultado do meu teste Jedi aqui. Se ele pode eu também posso.


:: how jedi are you? ::
Assisti ontem o show do Nightwish, no Credicard Hall em São Paulo. Eu tinha ouvido falar mal do lugar, mas pelo menos do local onde fiquei - platéia superior central - a acústica é decente; o local como um todo é muito organizado: nada de tumulto. Para quem não conhece, Nightwish é uma banda finlandesa de metal. Na minha opinião, os grandes diferenciais da banda são o vocal lírico de Tarja Turunen, uma das melhores vozes que ouço atualmente (e não sem mérito, ela estuda canto lírico (inclusive este estudo será motivo de recesso de um ano da banda após a turnê atual)) e a poesia nas letras. Os outros instrumentistas são bons, embora não excepcionais. As músicas em geral são rápidas e bem trabalhadas.
Sobre o show, então.
A performance de palco da Tarja me impressionou. Para quem tem que usar a voz daquela forma, não esperava que ela se mexesse tanto. E de fato é impressionante ouvir, ao vivo, toda aquela voz.
Uma das falhas do show foi ele ter acontecido apenas dois dias após o lançamento do álbum no país. A maior parte do público não conhecia as músicas novas, o que foi um pouco ruim. Mas aparentemente as pessoas receberam muito bem a nova produção da banda.
As músicas que eu lembro que eles tocaram são:
- do álbum novo: Bless the Child, End of All Hope, Dead to the World, Slaying the Dreamer e Beauty of the Beast;
- das clássicas: Sacrament of Wilderness, Come Cover Me, Deep Silent Complete, Tenth Man Down, The Kinslayer, Sleeping Sun, Over the Hills and Far Away e Wishmaster;
- outra: Crazy Train ("thanks to mr. Osbourne", nas palavras deles), tocada pelos homens da banda enquanto a Tarja foi beber água ou qualquer coisa assim no backstage.
Uma pena que não tocaram as minhas preferidas do álbum novo, Ever Dream e Forever Yours. Mas Sleeping Sun foi fantástica e, ao final, toda a platéia gritava "Wishmaster", de forma que eles finalizaram dizendo "We've heard your wishes" e tocando a música. Grande final, apesar de deixar todos com aquele gosto de "quero mais", já que o show durou um pouco menos de duas horas.

Abaixo a letra de Sleeping Sun, uma das minhas músicas preferidas da banda. Perceba a poesia...

The sun is sleeping quietly
Once upon a century
Wistful oceans calm and red
Ardent caresses laid to rest

For my dreams I hold my life
For wishes I behold my night
The truth at the end of time
Losing faith makes a crime

I wish for this night-time
to last for a lifetime
The darkness around me
Shores of a solar sea
Oh how I wish to go down with the sun
Sleeping
Weeping
With you


Sorrow has a human heart
From my god it will depart
I'd sail before a thousand moons
Never finding where to go

Two hundred twenty-two days of light
Will be desired by a night
A moment for the poet's play
Until there's nothing left to say

I wish for this night-time...

I wish for this night-time...


Saturday, July 20, 2002

À medida em que faço mais posts, percebo duas tendências: aumenta a "necessidade" de editar o blog (vício potencial...) e muda o caráter inicialmente previsto para o blog. Resolvi que a minha noção de cultura será a mais ampla possível. Em gíria, dir-se-ia que ela abriu as pernas.
Após ler uma boa parte da edição atual da revista Caros Amigos, resolvi divulgá-la. É, isto mesmo. Farei propaganda.
A revista é uma das pouca publicações "grandes" brasileiras independentes da grande mídia. Os autores, praticamente em sua totalidade, são muito competentes. Não posso dizer isso com uma base técnica (jornalistas e publicitários de plantão me corrijam se eu estiver errado), mas no papel de leitor. Textos coerentes, bem justificados, bem escritos. Alguns dos meus jornalistas/escritores prediletos da atualidade: José Arbex Jr., César Benjamim, Luís Fernando Veríssimo (este, só eventualmente), entre muitos outros bons. A revista custa R$ 5,50 nas bancas, é mensal, representando um investimento perfeitamente possível para praticamente todos que estão lendo esse texto. Além disso, você pode assiná-la por dois anos pagando R$ 105,90 em três vezes (eu disse que faria propaganda). Para os que não conhecem, sugiro o site da revista onde uma boa parte dos textos publicados podem ser encontrados. Entre os textos desse mês que já li, destaco a reportagem de capa, com título "Juventude Indignada"; a entrevista de um sociólogo francês, Michel Maffesoli, falando sobre o Brasil como laboratório da pós modernidade (na concepção dele, a junção do arcaismo com a tecnologia); e o texto de César Benjamim, questionando a política que a esquerda anuncia como plano de governo e propondo algumas soluções.
Encerro com algumas frases citadas ao longo desta edição da revista e que julguei interessantes.

"Na Roma Antiga, só votavam os romanos. No capitalismo global moderno, só votam os americanos, os brasileiros não votam."
George Soros (Folha de S. Paulo, 08/06/2002).

"Estamos há vinte anos sem crescer. Neste país só se fala em mercado. Basta um especulador dizer qualquer coisa para ficarmos de joelhos. Não podemos abrir mão da nossa soberania. É preciso dar um basta nisso. Temos de defender nossos agricultores, trabalhadores, industriais e a classe média."
Nicolau Jeha, vice-presidente da FIESP (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) (Carta Maior)

"O momento de maior participação política que eu me lembre, nos anos 50, foi uma campanha em defesa da escola pública (...). Foi uma grande mobilização pelo ensino público gratuito obrigatório, que é a base da democracia - o que eu acredito até hoje."
Fernando Henrique Cardoso, em artigo ao Jornal da Tarde, falando de seus tempos de professor (citado como pérola na seção República da edição 64 da Caros amigos)

"Sentimento sem ação é a ruína da alma."
Patrick Reinsborough, diretor organizador da Rainforest Action Network, parafraseando Edward Abbey

Friday, July 19, 2002

Claramente a resposta adotada aqui à "questão cultural" mencionada no topo desta página será severamente influenciada pelo meu gosto pessoal. E acabo de decidir que, (1) para mim, Star Wars é cultura e que (2) não há problemas em colocar imagens pequenas na página. Talvez eu volte atrás no futuro, mas no momento me parece ótimo mencionar que existe um teste (encontrei em outro blog) de Jedi:

:: how jedi are you? ::

Thursday, July 18, 2002

Assisti há algumas horas o anime Mononoke Hime. Gostei muito, é um dos melhores que já vi. Acho fantástico como a história é criada e contada de forma tão diferente do "usual ocidental". Recomendo.
Abaixo, letra da versão em inglês do ending theme.

"In the moonlight I felt your heart
Quiver like a bowstring's pulse
In the moon's pure light, you looked at me
Nobody knows your heart

When the sun is gone I see you
Beautiful and haunting, but cold
Like the blade of a knife, so sharp and so sweet
Nobody knows your heart

All of your sorrow, grief and pain
Locked away in the forest of the night
Your secret heart belongs to the world
Of the things that sigh in the dark
Oh the things that cry in the dark"

Wednesday, July 17, 2002

"Art. 148. O exercício da virtude é um excelente remédio contra as paixões.

Se bem que essas emoções interiores* nos atinjam mais de perto e possuam, conseqüentemente, muito mais poder sobre nós do que as paixões que se encontram com elas, e das quais diferem, é certo que, uma vez que a alma tenha sempre do que se contentar em seu íntimo, todas as perturbações que provêm de outras partes não dispõem de poder algum para prejudicá-la; mas antes servem para aumentar a alegria, pelo fato de, vendo que não pode ser por eles ofendida, conhecer com isso sua própria perfeição. E, para que a nossa alma tenha por estar contente, necessita somente seguir estritamente a virtude. Pois, quem quer que tenha vivido de tal forma que sua consciência não possa censurá-lo de jamais haver deixado de fazer todas as coisas que reputou serem as melhores (que é o que denomino aqui virtude), recebe daí uma satisfação tão intensa para torná-lo feliz que os mais veementes esforços da paixão jamais têm poder suficiente para perturbar a tranqüilidade de sua alma."

* - As emoções a que o autor se refere são as estimuladas na alma pela própria alma. Os conceitos de "alma", "paixão" e "espíritos" utilizados por Descartes são por demais complexos para serem explicados em poucas palavras. Recomenda-se a leitura da referência bibliográfica abaixo aos interessados

Extraído de Descartes, René - "As Paixões da Alma", Segunda Parte
Estranho pensar no caráter exponencial dos fatos que determinam nossas existências. Quando eu vinha hoje caminhando para casa, pensava em como seria interessante manter um blog denominado Laurelin, a mais jovem das árvores de Valinor, que deu origem ao Sol. E fiz vários planos a respeito. Chegando aqui, descubro que alguém já utiliza o laurelin.blogspot.com. E, por incrível que pareça, Gondolin estava "vazia". Desta forma, meus planos anteriores foram por água abaixo mas já vejo um bom potencial no nome deste outro (por isso mencionei o caráter exponencial... uma simples mudança em uma variável (nome do blog) leva a várias mudanças em outras (conteúdo)). Inclusive, tudo começou quando eu decidi saber o que era o "hidden gate to save us from the shadow fall", na música Mirror Mirror do Blind Guardian. Acabei lendo "O Senhor dos Anéis" e "O Silmarillion", onde finalmente descobri o que era. E cá estou novamente, no início.

Nada mais justo do que citar os dois trechos de Tolkien referentes à criação de Gondolin.

"Já Turgon tinha lembranças da cidade instalada no alto de uma colina, Tirion, a bela, com sua torre e sua árvore; e não encontrava o que buscava. Mas voltou para Nevrast e se acomodou em Vinyamar, à beira-mar. E, no ano seguinte, o próprio Ulmo lhe apareceu e recomendou que voltasse a entrar sozinho no Vale do Sirion. Turgon partiu e, sob a orientação de Ulmo, descobriu o vale oculto de Tumladen, nas Montanhas Circundantes, no centro do qual havia uma colina de pedra. Dessa descoberta, ele não falou a ninguém por um tempo, mas retornou ainda uma vez a Nevrast, e ali começou em segredo a elaborar o projeto de uma cidade no estilo de Tirion sobre Túna, pela qual seu coração ansiava no exílio"
Extraído de Tolkien, J. R. R. - "O Silmarillion", Capítulo XIII (Da volta dos noldor)

"Já se relatou como, com a orientação de Ulmo, Turgon de Nevrast descobriu o vale oculto de Tumladen; e este (como mais tarde se soube) ficava a leste do curso superior do Sirion, num círculo de montanhas altas e escarpadas, aonde não chegava nenhum ser vivo à exceção das águias de Thorondor. Existia, porém, um caminho nas profundezas, por baixo das montanhas, escavado nas trevas do mundo, por águas que fluíam para se juntar à correnteza do Sirion. E esse caminho Turgon descobriu, e chegou assim à verde planície em meio às montanhas, e viu a colina-ilha de pedra dura e lisa que ficava ali; pois, o vale havia sido outrora um lago enorme. Turgon soube, então, que havia encontrado o local de seus desejos, e decidiu construir ali uma bela cidade, um monumento em memória de Tirion sobre Túna. Voltou porém para Nevrast e lá permaneceu sossegado, embora sempre pensando num modo de realizar seu projeto.
Ora, depois da Dagor Aglareb, a inquietação que Ulmo instilara em seu coração lhe voltou, e Turgon convocou muitos dos mais resistentes e habilidosos de seu povo, levou-os em segredo para o vale oculto, e ali começaram a construção da cidade que Turgon havia imaginado. Montaram também guarda em toda a sua volta, para que ninguém que viesse de fora pudesse deparar com seu trabalho, e o poder de Ulmo que corria nas águas do Sirion os protegia. Turgon, porém, ainda residia na maior parte do tempo em Nevrast, até que afinal a cidade ficou pronta, após cinqüenta e dois anos de faina em segredo. Diz-se que Turgon a denominou Ondolindë, na fala dos elfos de Valinor, a Rocha da Música da Água, pois havia nascentes na colina; mas no idioma sindarin o nome foi mudado, tornado-se Gondolin, a Rocha Oculta. Preparou-se então Turgon para partir de Nevrast e abandonar seus palácios em Vinyamar à beira-mar. E ali Ulmo mais uma vez veio até ele e lhe falou.
- Agora irás finalmente para Gondolin, Turgon; e manterei meu poder sobre o Vale do Sirion, e sobre todas as águas que existem ali, para que ninguém se dê conta de tua viagem. Ninguém tampouco encontrará a entrada secreta contra a tua vontade. De todos os reinos dos eldalië, Gondolin será o que resistirá por mais tempo a Melkor. Não tenhas, porém, amor em excesso pela obra de tuas mãos e invenções de teu coração. Lembra-te que a verdadeira esperança dos noldor está no oeste e vem do Mar.
E Ulmo avisou a Turgon que ele também estava sujeito à Condenação de Mandos, a qual Ulmo não tinha nenhum poder para eliminar.
- Assim, pode acontecer que a maldição dos noldor também te descubra antes do fim, e que a traição surja dentro de tuas muralhas. Então, elas correrão perigo de incêndio. No entanto, se esse perigo chegar muito perto, da própria Nevrast virá alguém te avisar; e dele, superando a destruição e o fogo, nascerá a esperança para elfos e homens."
Extraído de Tolkien, J. R. R. - "O Silmarillion", Capítulo XV (Dos noldor em Beleriand)