Saturday, January 11, 2003

Terminei de ler a terceira obra do Machado de Assis destas férias, Quincas Borba. Foram, até agora, Helena, Iaiá Garcia e a primeira citada. Resolvi lê-las por dois motivos: baixíssimo custo (adquiridas as três em um sebo por R$ 10) e o fato de serem clássicos. Por sinal, justamente sobre isto foi a minha constatação cultural mais importante dos últimos anos. Pode parecer trivial, mas eu nunca tinha parado pra pensar desta forma: "os clássicos não o são à toa, normalmente têm mérito". E realmente, todos os autores clássicos com os quais tomei contato nos últimos tempos se mostraram excepcionais.

Particularmente, Machado de Assis é o meu predileto da língua portuguesa. O estilo rebuscado e a inteligência das cenas são fantásticos. A descrição da sociedade e de seus hábitos é excepcional. Algum sarcasmo, a crítica implícita no próprio desenrolar das histórias, tudo é genial.

Abaixo, um trecho de Quincas Borba.

"O rumor das vozes e dos veículos acordou um mendigo que dormia nos degraus da igreja. O pobre-diabo sentou-se, viu o que era, depois tornou a deitar-se, mas acordado, de barriga para o ar, com os olhos fitos no céu. O céu fitava-o também, impassível como ele, mas sem as rugas do mendigo, nem os sapatos rotos, nem os andrajos, um céu claro, estrelado, sossegado, olímpico, tal qual presidiu às bodas de Jacó e ao suicídio de Lucrécia. Olhavam-se numa espécie de jogo do siso, com certo ar de majestade rivais e tranqüilas, sem arrogância, nem baixeza, como se o mendigo dissesse ao céu:
- Afinal, não me hás de cair em cima.
E o céu:
- Nem tu me hás de escalar."

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