Tuesday, April 12, 2005

Impressões de uma noite decadente em Amsterdam

Bom, já que o Hirai fez a parte dele falando sobre Shanghai, vou falar um pouco sobre o que pude perceber de Amsterdam em uma noite.
Amsterdam é, talvez, a cidade mais liberal no mundo. Drogas leves e alucinógenos naturais são oficialmente tolerados, e a zona de prostituição é uma das atrações turísticas da cidade. Para um estrangeiro que conhece apenas a região central, a impressão é de que a cidade gira em torno de sexo e drogas.

Sexo


Logo à frente da Centraal Station, no centro dos canais semi-circulares que formam a cidade, fica o "Red Light District" (em bom português, a zona). São basicamente alguns quarteirões em que o imóvel padrão é um "quarto" de mais ou menos um metro de largura e uns 4 ou 5 de profundidade, com uma janela ocupando toda a frente, onde as prostitutas se exibem de lingerie. As prostitutas são, em geral, muito bonitas (muitas no nível de capa da Playboy), mas, claro, há as exceções para baixo orçamento, fetiches, whatever. O preço é barato, comparado com os do resto da Europa (40-50 euros por mais ou menos 20 minutos. Rapidinhos esses holandeses...). É proibido tirar fotos das prostitutas, e muitas partes do quarteirão são protegidas por câmeras de vigilância (e, segundo li, policiais à paisana). Além das prostitutas, há várias sex-shops, que nem mesmo evitam mostrar na vitrine coisas como vibradores gigantes ou capas bem gráficas de DVDs com títulos como "O Bode". Ao contrário das "janelas" de prostitutas, as sex-shops não existem somente no Red Light District: em qualquer ruazinha pequena perto do centro se passa por uma vitrine cheia de vibradores e vídeos pornôs.

Drogas


Amsterdam é famosa pelas suas Coffee Shops: estabelecimentos onde se vai para consumir maconha e/ou haxixe (ou pra acessar à Internet...). Ao se entrar em um desses estabelecimentos, o atendente geralmente oferece um cardápio onde constam vários tipos de erva, com preços em torno de 11 euros por uma quantidade entre 2 e 4 gramas (dependendo do tipo). Há também estabelecimentos especializados em plantas e cogumelos alucinógenos (na Holanda não é proibida a venda das plantas in natura, apenas do material já processado), como psylocibes, peyote, mescalina, etc. Apesar de, no nosso caso específico, não nos terem sido oferecidas, pelo que ouvimos e pudemos perceber nos avisos pela cidade, "drogas pesadas" são um problema sério.

Pessoas


Algumas impressões gerais sobre as pessoas de Amsterdam:

  • Muitos imigrantes, bem mais que qualquer outro lugar da Europa que visitamos. Praticamente todos os atendentes de fast-food que vimos eram imigrantes, por exemplo. Além disso, muitos turistas.
  • Muitos mendigos, muitos deles também imigrantes. Ao se andar de madrugada pela cidade, a cada esquina se esbarra com dois ou três mendigos "semi-marginais", que ficam seguindo, importunando, ou mesmo pedindo papel pra enrolar baseado ou isqueiro. A impressão geral é que são viciados a ponto de assaltar os transeuntes para conseguir mais droga. Lamentável.
  • Talvez como conseqüência do número de estrangeiros, os holandeses são bastante poliglotas. Praticamente todas as pessoas falam inglês, e alguns falam francês, italiano, alemão, espanhol... Alguns mendigos, antes de começar a mendigar, perguntam qual a língua do interlocutor.
  • As pessoas andam pouco de carro. A cidade é bem pequena (observando o mapa, não parece ser difícil atravessá-la a pé), com muitas ciclovias, bondes, e três linhas de metrô. Entre os jovens, o meio de transporte é a bicicleta: ao final da balada, às 4 da manhã, a maioria dos freqüentadores estava pegando sua bicicleta para ir embora.
  • Sim, as holandesas (aliás, as que supomos que sejam holandesas, dado o número de estrangeiros pelas ruas) têm peitos. Vistosos até mesmo pra quem não tenha acabado de chegar da China...

Conclusão


A liberdade com relação ao sexo não parece trazer nenhuma conseqüência ruim para o ambiente, exceto talvez pelas vitrines com artigos pornográficos no meio da cidade. As drogas, por sua vez, trazem um problema social mais sério: a cidade é repleta de viciados, marginalizados, rondando pelas ruas. Em apenas uma noite na cidade, um amigo nosso foi roubado (não assaltado, tiraram o dinheiro da mão dele e correram). Andando pela cidade, várias vezes grupos de mendigos (alguns drogados) ficaram nos seguindo ou esperando em esquinas. Uma noite na cidade foi suficiente, para mim, para derrubar o argumento de que é a ilegalidade que marginaliza os usuários de drogas. A cidade tem alguns cenários bonitos, e parece bastante calma, mas, infelizmente, a sensação de insegurança e decadência estraga boa parte disso.

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