Friday, March 21, 2003

A natureza versus Bush

Existe, por algum motivo desconhecido ou controverso (Deus?), uma ordem natural das coisas. Esta ordem será denominada natureza neste texto.

A natureza privilegia os organismos que contém em si maior conhecimento a respeito dela. Este conhecimento foi denominado aptidão ou adaptabilidade na teoria Darwiniana. Percebe-se esta tendência a longo prazo.

A partir deste critério, deriva-se a regra mais importante do jogo estabelecido pela natureza. A regra tem a ver com harmonia, equilíbrio. Os organismos que são incapazes de coexistir de forma harmônica com os outros invariavelmente perecem. Se, por exemplo, um organismo (ou um grupo) consumir mais recursos do que o "devido" , estes acabarão e aquele perecerá. A instabilidade não é aceita; os fatores de instabilidade são extintos cedo ou tarde na busca do equilíbrio.

Nos milhões de anos que antecederam o surgimento do homem na Terra, este processo se deu de forma lenta e gradual. Eram necessárias incontáveis gerações para que a natureza fizesse sua escolha. O conhecimento era passado lentamente entre os organismos que participaram do processo evolutivo. A introdução dos organismos conscientes representou uma fantástica - e perigosa - mudança na velocidade deste fenômeno. A consciência foi o passo mais ousado da natureza.

Uma vez que o organismo "homem" pôde analisar o conhecimento, a modificação e passagem deste entre as sucessivas gerações foi muito acelerada. Não eram mais necessários os infinitos testes do genótipo através de fenótipos diferenciados no ambiente. Não era preciso criar estruturas orgânicas diferentes para modificar o conhecimento contido nos seres. Os próprios seres podiam modificá-lo.

Neste passo, entretanto, uma parte da segurança provida pelo controle anterior foi perdida. Antes, invariavelmente aqueles organismos que não condiziam com as regras eram extintos antes de causarem maiores estragos. Agora, "conhecimentos" contrários à natureza poderiam ser propagados de forma tão veloz que a natureza não teria tempo para agir.

Esta é a causa dos absurdos dos nossos tempos. Ao longo do tempo, perdeu-se o senso do propósito inicial: conhecimento vinculado a uma existência harmônica com os outros seres. O homem perdeu esta noção, e criou, para substituí-la, teorias completamente absurdas segundo este ponto de vista. Pode-se citar a "superioridade racial", os nacionalismos, o capitalismo. As conseqüências negativas são evidentes: massacre dos povos pré-colombianos, dos negros, dos judeus; guerras mundiais; extrema desigualdade social.

Saddam e Bush representam a parte negativa dos resultados que a consciência trouxe para a evolução. Se questionados a respeito de seus motivos, responderão com as teorias estapafúrdias acima citadas. "Pelo que o senhor luta, Mr. Bush?" Uma vez eliminada toda a hipocrisia do discurso pela paz mundial, evidenciados os interesses estratégicos no petróleo da região (do qual a Europa é dependente) e nas vantagens econômicas da guerra, talvez Bush respondesse que é pelo bem estar do povo americano (em detrimento do resto do mundo, mas ele nem pensa nisso) ou pelo poder aumentado que esta ação militar lhe proporcionaria. Da mesma forma, Saddam deve ter suas ilusões a respeito do Iraque. Ilusões e nada mais, tudo pela falta de um senso de propósito.

A humanidade, ao contrário do que possa parecer, ainda não perdeu o jogo da natureza. Um sem número de pacifistas grita pelas ruas contra a guerra. Conhecimento bom, em acordância com os preceitos da natureza, também foi produzido. Grandes intelectuais defendem políticas internacionalistas, defendem o interesse de todos os homens e não de grupos isolados. E mesmo que prevaleça a estupidez dos homens armados, a natureza cobrará seu preço. A instabilidade não será suportada indefinidamente. Ou somem os exércitos, ou some a humanidade. A última opção é trágica, mas talvez nos próximos milhões de anos surja uma espécie mais tolerante no planeta. A ordem natural das coisas prevalecerá, independente das circunstâncias.

De qualquer forma, esta guerra o senhor Bush já perdeu.

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